sábado, 22 de fevereiro de 2025

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XVIII)

79. Na verdade, ninguém deseja ser considerado orgulhoso pois, mesmo segundo os critérios mundanos, a maior acusação que se pode fazer a um homem é dizer que ele é orgulhoso. E, no entanto, poucos tentam evitar exatamente aquilo de que menos gostariam de ser acusados pelos outros. Se sentimos satisfação interna quando somos creditados com uma humildade que não possuímos, por que não nos esforçamos para adquirir aquilo com o qual gostamos de ser creditados? Se buscamos a sombra vã da humildade, isso significa que nos importamos muito pouco com a substância dessa virtude. Um homem que se contentaria com a aparência da virtude sem tentar adquiri-la de fato se assemelharia a um mercador que valoriza pérolas e gemas falsas mais do que as reais.

Ó minha alma, talvez tu também estejas entre aqueles que, sendo orgulhosos, ressentem-se da acusação de orgulho e desejam ser considerados humildes! Isso seria mentir para tua própria consciência, mentir para Deus, para os seus anjos e para os homens. Como diz São Paulo: 'Somos feitos um espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens' [1Cor 4,9]. É vergonhoso para nós desejar parecermos humildes quando não o somos. Há certas ocasiões em que, em nossos atos interiores, devemos praticar a humildade; mas devemos vigiar sobre nós mesmos cuidadosamente, para que ao praticá-la não queiramos ser considerados humildes. E é por isso que os atos ocultos de humildade são mais seguros do que os exteriores. Mas se há orgulho no desejo de que a humildade que temos seja reconhecida e conhecida, que medida de presunção não haveria no desejo de ser considerado humilde quando não temos humildade? Cuidemos para que as palavras da Sagrada Escritura não se apliquem a nós: 'Há aquele que se humilha perversamente, e seu interior está cheio de engano' [Eclo 19,23].

80. Quanto mais refletimos sobre essa grande virtude da humildade, mais devemos aprender a amá-la e honrá-la. É natural para a alma amar um bem que ela reconhece como tal, e não há dúvida de que amaremos a humildade quando reconhecermos seu valor intrínseco e o bem que dela resulta. Nosso amor pelo que é bom é medido pelo nosso conhecimento dele, e na mesma medida em que amamos, desejamos obtê-lo, e na medida em que o desejamos, abraçamos os meios mais apropriados e eficazes para adquiri-lo. Foi assim que o Sábio agiu para obter sabedoria. Ele a amou, desejou e orou por ela, e aplicou toda sua mente para possuí-la, tamanha era a estima em que a tinha: 'Por isso desejei, e a inteligência me foi dada, e a preferi aos reinos e tronos, e estimei as riquezas como nada em comparação com ela' [Sb 7,7].

É necessário compreender completamente essa doutrina, porque nunca conseguiremos adquirir humildade a menos que realmente a desejamos obtê-la; nem a desejaremos a menos que tenhamos aprendido a amá-la, nem a amaremos a menos que tenhamos percebido o que a humildade realmente é um grande e precioso bem, absolutamente essencial para o nosso bem-estar eterno. Considere por um momento em que estima você tem a humildade. Você a ama? Você a deseja? O que você faz para adquiri-la? Você pede essa virtude a Deus em suas orações? Você recorre à intercessão da Bem-aventurada Virgem? Você lê com vontade aqueles livros que tratam da humildade ou as vidas dos santos mais notáveis por sua humildade? 'Há uma certa vontade' - diz São Tomás - 'que é melhor ser chamada de desejo de querer do que a vontade absoluta em si mesma' [3ª parte, q. xxi, art. 4], pela qual parece que podemos querer uma coisa e ainda assim não querer. Portanto, examine-se e veja se seu desejo de humildade é apenas uma simples vontade passageira ou realmente está em sua vontade. 

81. Para ser humilde, devemos nos conhecer; e esse autoconhecimento é difícil, mas apenas por causa de nosso orgulho, cujo efeito principal é nos cegar. Portanto, para adquirir a virtude da humildade, devemos primeiro lutar contra e subjugar seu inimigo, o orgulho; e para superá-lo - tendo orado a Deus, como a valente Judite: 'Fazei, ó Senhor, que o seu orgulho seja cortado' [Jd 9,12] - três outras coisas são necessárias. Primeiramente, ao meditar sobre o assunto, devemos sentir ódio e aversão ao nosso orgulho, porque nunca conseguiremos nos livrar de todos os males que afetam nossa alma enquanto continuarmos a amá-los. Em segundo lugar, devemos fazer uma firme resolução de emenda a todo custo, porque, sob qualquer aspecto que consideremos, isso sempre será para nosso benefício. Em terceiro lugar, devemos imediatamente nos esforçar para arrancar todos os nossos hábitos de orgulho, especialmente os mais predominantes, pois é bem sabido que quanto mais tempo permitimos que um mau hábito cresça, mais forte ele se tornará, e maior será a nossa dificuldade em erradicá-lo: 'E eu disse, agora comecei' [Sl 76,11].

Não devemos perder o ânimo nem nos desanimar, mas confiar na misericórdia de Deus, o que é, acima de tudo, mais necessário: 'Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá' [Sl 36,5]. É pela graça de Deus que podemos vencer nossas numerosas paixões malignas, e é através dEle que podemos esperar subjugar nosso orgulho. Portanto, clamemos a Ele com o Rei Davi: 'meu benfeitor e meu refúgio, minha cidadela e meu libertador, meu escudo e meu asilo, que submete a mim os povos' [Sl 143,2]. 

82. Não é bom aplicarmos nossos esforços para erradicar um defeito, quando sabemos que, ao fazê-lo, nossos corações se alegrarão? E, portanto, não é verdade que, uma vez subjugado o nosso orgulho, que é a causa de tantos dos nossos problemas, seremos muito mais felizes? Sentimos uma aversão natural pelos orgulhosos e não podemos amá-los; mas será que este instinto de aversão que temos pelos orgulhosos não pode ser sentido por outros em relação a nós? Pois é verdade que 'o orgulho é prejudicial sempre' [Eclo 10,7]. Às vezes lamentamos que os outros não nos amem ou nos estimem. Vamos examinar a causa, e veremos que ela provém do nosso orgulho. Por outro lado, não vemos a afeição que geralmente é demonstrada aos humildes? Todos buscam sua companhia, todos depositam confiança neles, todos desejam o bem deles. Isso também aconteceria conosco se fôssemos humildes; e que felicidade sentiríamos ao amar e ser amados por todos! A princípio parece que esta é uma questão de respeito humano; mas é inspirada pela caridade, vem de Deus e do desejo de nos assemelhar a Ele. A humildade veste o mesmo traje que a caridade, que, como diz São Paulo, 'é paciente, é bondosa, não inveja, não se ufana, não é ambiciosa' [1Cor 13,4]. E é fácil revestir a humildade com as mesmas intenções virtuosas da caridade.

83. O orgulho é a raiz de todos os nossos vícios, de modo que, quando o arrancarmos de uma vez por todas, esses vícios desaparecerão, pouco a pouco, também. Esta é a verdadeira razão pela qual temos que acusar-nos dos mesmos pecados repetidamente em nossas confissões, porque nunca confessamos o orgulho, que é a raiz de todos eles. Não nos espantamos ao ver a figueira dando seus figos ano após ano e a macieira as suas maçãs. Não; porque cada árvore dá o seu próprio fruto. Da mesma forma, o orgulho está enraizado como uma árvore em nossos corações; e nossos pecados de ira, inveja, ódio, malícia, falta de caridade e julgamentos precipitados sobre os outros, que confessamos repetidamente, são o fruto do orgulho; mas como nunca atacamos a raiz desse orgulho, esses mesmos pecados, como galhos podados, sempre brotam novamente. Vamos nos esforçar para erradicar o orgulho de maneira completa, seguindo o conselho de São Bernardo: 'Coloque o machado na raiz' [Sermão 2 de Assunção], e então teremos grande alegria e consolação em nossa própria consciência.

Devemos considerar o orgulho como o rei de todos os vícios e seguir o sábio conselho dado pelo rei da Síria aos seus capitães: 'Não lutareis contra ninguém, grande ou pequeno, mas contra o rei somente' [1 Rs 23,31]. Judite também, ao matar o orgulhoso Holofernes, conquistou todo o exército assírio. E Davi triunfou sobre todos os filisteus ao matar o orgulhoso Golias; da mesma forma, também triunfaremos, porque ao conquistar o orgulho, teremos subjugado todos os outros vícios. O rei Davi errou em uma coisa, pois sabendo que Absalão era o chefe dos rebeldes, ainda assim ordenou que ele não fosse morto nem ferido: 'Salve-me o menino Absalão' [2Rs  17, 15]. Ai, quantos imitadores ele encontrou! Sabemos muito bem que o orgulho é o principal rebelde entre todas as nossas paixões, mas, no entanto, é o que mais parecemos respeitar, e quase temos medo de ofendê-lo, chegando até mesmo a demonstrar uma tendência a incentivá-lo.

84. Existem certos pecados que raramente ou nunca mencionamos em nossas confissões, seja porque nossa consciência é muito tranquila e flexível, ou talvez porque realmente não desejamos nos corrigir. O orgulho é um desses pecados; são poucos os que se acusam dele; mas aqueles que realmente desejam corrigir suas vidas devem torná-lo um assunto especial de seu exame e confissão, a fim de aprender a odiá-lo e se arrepender dele; e fazer resoluções firmes de emenda para o futuro.

Quem deseja fazer uma boa confissão não deve apenas confessar os seus pecados, mas também a razão e a ocasião do pecado; dizendo, por exemplo: 'Acuso-me de ter me deleitado com pensamentos impuros, causados pela falta de guarda dos olhos, liberdade excessiva de palavras e comportamento frívolo'. E, da mesma forma, devemos confessar nossos pecados de orgulho, dizendo: 'Acuso-me de ter me irritado e incomodado com aqueles ao meu redor, e a única razão da minha ira e incômodo foi o meu orgulho. Acuso-me de ter invejado e até de ter tomado o que pertencia a outros, apenas para satisfazer o meu orgulho e vaidade. Também falei com desprezo do meu próximo, e isso novamente por causa do meu orgulho, que não suporta que ninguém seja considerado superior a mim'. Continue examinando todos os seus defeitos da mesma forma, e você encontrará a verdade nas palavras inspiradas:

'O espírito se eleva antes da queda' [Pv 16,18] e 'Antes da destruição, o coração do homem se exalta' [Pv 18,12]. Para subjugar o nosso orgulho, é bom mortificá-lo e envergonhá-lo por meio dessas acusações, que também são atos de virtuosa humildade, mas é mais necessário ainda insistir em nossa própria emenda, pois 'De que adianta humilhar-se aquele que faz o mesmo novamente?' [Eclo 34,31]. Não basta confessarmos nossos pecados, diz as Sagradas Escrituras, mas também é necessário emendá-los para obter a misericórdia de Deus: 'Quem confessar seus pecados e os abandonar, obterá misericórdia' [Pv 28,13].

85. A humildade de coração, ensina São Tomás, não tem limite pois, diante de Deus, podemos sempre nos humilhar mais e mais, até a total nulidade, e podemos fazer o mesmo em relação aos nossos semelhantes. Mas no exercício desses atos exteriores de humildade, é necessário agir com discrição para não cair em uma extravagância que possa parecer excessiva. 'A humildade' - diz São Tomás - 'reside principalmente na alma', e, portanto, um homem pode se submeter a outro no que diz respeito aos seus atos interiores, e é isso que São Agostinho quer dizer quando afirma: 'Diante de Deus, um prelado é colocado sob seus pés mas, nos atos exteriores de humildade, é necessário observar a devida moderação' [2a 2æ, q. clxi, art. 3 ad 3].

Uma profunda humildade deve existir em todo estado de vida, mas os atos exteriores de humildade não são aconselháveis para todos. Por isso, as Escrituras Sagradas dizem: 'Cuidado para não ser enganado pela loucura e ser humilhado' [Eclo 13,10]. Podemos aprender com a piedosa Ester como praticar a humildade de coração em meio à pompa e aos louvores: 'Tu sabes da minha necessidade' - ela clamou a Deus 'que abomino o sinal do meu orgulho' [Est 14,16]. Eu me visto com essa roupa rica e com essas joias porque minha posição exige, mas Tu, Senhor, vês o meu coração, que pela Tua graça não tenho apego a essas coisas nem a essa vestimenta, e que só as uso por necessidade. Aqui, de fato, está um grande exemplo daquela verdadeira humildade interior que pode ser praticada e sentida em meio à grandeza externa. Mas agora chegamos ao ponto. Esta humildade de coração deve realmente existir diante de Deus, cujos olhos contemplam os movimentos mais ocultos do coração; e se ela não existir, que desculpa podemos alegar diante do tribunal de Deus para nos justificarmos por não tê-la? E quanto mais facilmente a teríamos adquirido agora, mais inaceitável será para nós no dia do Juízo.

86. A malícia do orgulho reside, na realidade, no desprezo prático que mostramos pela vontade de Deus ao desobedecê-la. Assim, diz São Agostinho, há orgulho em todo pecado cometido, 'pelo qual desprezamos os mandamentos de Deus' [Lib. de. Salut. docum. c. xix]. E São Bernardo explica da seguinte forma: 'Deus nos manda fazer a sua vontade, Deus deseja que a sua vontade seja feita'; e o pecador, em seu orgulho, prefere a sua própria vontade à vontade de Deus: 'E o homem orgulhoso deseja que sua própria vontade seja feita'.

E é esse orgulho que aumenta tanto a gravidade do pecado; e quão grande deve ser o nosso pecado quando, sabendo em nossas mentes que Deus merece ser obedecido por nós, nos opomos à nossa vontade, à vontade de Deus, a quem sabemos ser digno de toda obediência. Que maldade há em dizer a Deus: 'Não servirei' [Jr 2,20] quando sabemos que todas as coisas servem a Ele [Sl 128,91]. Para ilustrar isso, imaginemos uma pessoa dotada das qualidades mais nobres possíveis, como saúde, beleza, riquezas e nobreza e com todo talento natural e graça do corpo e da alma. Agora, pouco a pouco, vamos retirar dessa pessoa todos esses dons que vêm de Deus. A saúde e a beleza são dons de Deus; as riquezas e a posição social, o conhecimento e a sabedoria, e todas as outras virtudes vêm de Deus; o corpo e a alma pertencem a Deus. E, sendo assim, o que resta para essa pessoa de sua própria posse? Nada; porque tudo o que é mais do que nada pertence a Deus.

Mas quando essa pessoa diz de si mesma: 'Eu tenho riquezas, tenho saúde e tenho conhecimento', o que significa esse 'eu'? Nada e, no entanto, esse 'eu', esse nada, que deriva tudo o que possui de Deus, ousa desconsiderar esse mesmo Deus desobedecendo aos seus soberanos mandamentos, dizendo-lhe, se não em palavras, certamente em atos, o que é muito pior: 'Não servirei'; não, não obedecerei. Ah, orgulho, orgulho! Mas, ó minha alma, 'por que teu espírito se exalta contra Deus?' [Tb 15,13]. Não estou certo em pregar e recomendar essa humildade a ti? Cada vez que tu pecas, és como o orgulhoso Faraó que, quando foi instruído a obedecer aos mandamentos de Deus, disse: 'Quem é esse Deus? Eu não o conheço' [Ex 5,2].

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

NOLI TIMERE!

O apóstolo que não logra entender bem qual deva ser a alma de seu apostolado achará incompreensível esta frase de Bossuet: 'Quando Deus quer que uma obra seja toda de sua mão, tudo reduz à impotência e a nada, e depois, opera'. Nada ofende tanto a Deus como o orgulho. Ora, na procura de bons êxitos, podemos, por falta de pureza de intenção, chegar a ponto de nos erigirmos como que em uma divindade, princípio e fim de nossas obras. Deus tem horror desta idolatria. Por isso, quando vê que a atividade do apóstolo carece dessa impessoalidade que sua glória exige da criatura, deixa, às vezes, o campo livre às causas segundas e o edifício não tarda em desmoronar-se.

Ativo, inteligente, dedicado, votou-se o operário ao trabalho com todo o entusiasmo de sua natureza. Conheceu, quiçá, êxitos brilhantes, alegrou-se com eles, olhou-os com complacência. É sua obra. A sua! Veni, vidi, vici [Vim, vi, venci]. Quase chegou a apropriar-se dessa frase célebre. Esperemos um pouco. Qualquer acontecimento permitido por Deus, uma ação direta de Satanás ou do mundo vingam atingir a obra ou a própria pessoa do apóstolo: ruína total! Mais lamentável, porém, é ainda a devastação interior, causada pela tristeza e pelo desânimo desse esforçado de ontem. Quanto mais exuberante havia sido a alegria, tanto mais profundo é agora o abatimento! 

Só nosso Senhor poderia reparar essas ruínas: 'Vamos, coragem' - diz Ele ao desanimado - 'em vez de operares sozinho, recomeça o trabalho comigo, por mim e em mim'. Mas o infeliz já não escuta essa voz. Tão exteriorizado anda que, para ouvi-la, precisaria de um verdadeiro milagre da graça; mas já não tem o direito de contar com ele, devido ao acúmulo de infidelidades. Só uma vaga convicção na onipotência de Deus e em sua providência é que paira sobre a desolação desse desditoso e e essa convicção não é suficiente para dissipar as ondas de tristeza que continuam a assaltá-lo. 

Quão diferente é o espetáculo do verdadeiro sacerdote, cujo ideal é reproduzir Nosso Senhor! Os dois grandes meios de ação, assim sobre o coração de Deus, como sobre o coração dos homens, são sempre, para esse sacerdote, a oração e a santidade. Certo é que ele dispende forças e com muita generosidade. Mas julga a miragem do bom êxito perspectiva indigna de verdadeiro apóstolo. Sobrevêm as borrascas, pouco importa a causa segunda que as originou. Como trabalhou apenas com Nosso Senhor, em meio das ruínas amontoadas, esse apóstolo ouve retinir no fundo de seu coração o mesmo Noli timere! [Não temais!] que outrora, durante a tempestade, restituía a paz e a segurança aos discípulos atemorizados.

(Excertos da obra 'A Alma de Todo Apostolado', de Jean-Baptiste Chautard)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

POEMAS PARA REZAR (LVIX)

O TEMPO

Mas não é que já estamos no final de fevereiro?
Mas não parece que foi ontem o ano que passou?
Janeiro se foi...
... e março logo vai chegar.
Entre janeiro e março, fevereiro vai ser aquele que passou
ou um fevereiro que nunca vai terminar.

Entre janeiro e março, para tantos, a vida voou esquecida das horas;
para outros, porém, ficou retida num dia qualquer de fevereiro
com a dimensão da eternidade.
Para tantos, um mês qualquer com outros tantos dias para cuidar de tantas coisas por cuidar
e, para outros, porém, um tempo que não existe mais.
Ó tempo, tão desprezado na vida,
como será desejado na hora da morte
e não valerá mais coisa alguma!

Quando o tempo for um anjo sem asas
que a morte do nada arrancou
vai valer todo o ouro do mundo
mas será só areia que o vento levou...

O tempo que vale todo o ouro do mundo é agora!

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (VII)

P. 14 - O que então se pode dizer daqueles que, sendo criados no âmbito de uma religião falsa, não têm oportunidade de ouvir sobre a verdadeira Igreja e fé de Cristo, ou que a ouvem apenas de uma forma falsa e odiosa? Podem esses ser salvos se viverem e morrerem em sua separação da comunhão da Igreja de Cristo e em ignorância invencível da verdade?

O autor erudito do livro chamado Caridade e Verdade*, que parece disposto a ir o mais longe possível em favor daqueles que não estão unidos na comunhão da Igreja de Cristo, admite sinceramente que é totalmente incerto se tais pessoas serão salvas, mesmo em ignorância invencível; pois, ao estabelecer o verdadeiro estado da questão, ele diz: 'O significado é que ninguém é salvo a menos que esteja na comunhão católica, seja de fato ou virtualmente, seja na realidade ou no desejo; e que não podemos ter certeza, falando de maneira geral, de que alguém seja salvo fora da Igreja Católica, que está invencivelmente ignorante da verdadeira Igreja e da verdadeira religião' (Cap.I; Q.3). 

O fato é que não existe um único testemunho das Sagradas Escrituras que dê razão para pensar que alguém será salvo fora dessa comunhão; mas há muitos, como vimos acima, que afirmam fortemente o contrário. Todas as razões que são apresentadas em favor daqueles que estão fora da Igreja são tiradas de casos imaginários e de nossas ideias imperfeitas sobre a bondade de Deus ou da percepção que alguns formam de ser membro da verdadeira Igreja; e essas pessoas das quais falamos na presente questão fornecem os principais fundamentos dessas argumentações. Este é o raciocínio: suponha-se que um homem nasça e seja batizado em uma seita herética, e depois, quando atingir a maioridade, seja colocado em circunstâncias que impeçam que ele ouça sobre a verdadeira religião, exceto de maneira falsa e odiosa, que serve apenas para fazê-lo detestá-la e ficar cada vez mais preso à sua própria forma de pensar, e, por isso, viver em ignorância invencível da verdade. 

É reconhecido por todos que esse homem, pelo batismo, é feito membro da Igreja de Cristo, e que, se morrer antes de chegar ao uso da razão, certamente será salvo em sua inocência batismal. Vamos agora supor mais ainda que, quando ele atinja a maioridade, continue a viver uma vida inocente e, cooperando com as graças que Deus lhe concede, persevere em sua inocência e faça o melhor que pode, de acordo com seu conhecimento, e faria melhor se soubesse: não é incoerente com a bondade de Deus supor que tal homem, vivendo e morrendo nesse estado, seria perdido? Não é ele, aos olhos de Deus, um verdadeiro membro da Igreja de Cristo, embora não esteja unido à sua comunhão? E, se ele morrer em sua inocência, não deve ser salvo? Esse é o argumento apresentado, e ele tem uma aparência atraente.

Mas deve ser observado que há fortes razões para duvidar que já tenha existido ou venha a existir tal caso: (i) Não há o menor fundamento nas Escrituras para supor isso; (ii) Como é impossível para o homem, em seu estado atual de queda, preservar sua inocência batismal por qualquer período de tempo, muito menos perseverar nela até o fim da vida, sem uma graça especial e extraordinária de Deus; e, como tal graça é justamente considerada uma das mais singulares bênçãos concedidas por Deus aos seus servos fiéis, que são membros da sua Igreja e que desfrutam de todas as poderosas ajudas que só podem ser encontradas em sua comunhão, para lhes permitir fazer isso; pode-se supor que Ele concederá essa preciosíssima bênção a alguém que está fora de sua comunhão e, consequentemente, privado de todas essas ajudas? 

E se supusermos que ele perde sua inocência batismal ao cometer um pecado mortal, mas recupera a graça da justificação por meio de um arrependimento sincero, a dificuldade ainda aumenta. Pois um arrependimento sem a ajuda dos sacramentos suficientes para obter a graça da justificação inclui uma contrição perfeita, fundada no amor a Deus acima de todas as coisas; uma graça tão raramente concedida aos pecadores, mesmo dentro da Igreja, que o sacramento da Penitência é estabelecido por Jesus Cristo como o meio permanente para suprir nossa deficiência a esse respeito. Agora, qual a probabilidade de que Deus Todo-Poderoso conceda tão singular favor a alguém que tenha perdido sua inocência e não esteja na comunhão da sua Igreja para obter as ajudas necessárias para recuperá-la? Mas (iii) Suponhamos que o caso aconteça como proposto, e que Deus Todo-Poderoso dê a esse homem essas graças extraordinárias pelas quais ele preserva sua inocência batismal até o fim, morre na graça de Deus e vai para o céu, isso não seria fazer com que Deus se contradissesse e agisse diretamente contra todo o teor da sua vontade revelada? Todos os testemunhos das Escrituras concordam em provar que Deus designou a verdadeira fé em Jesus Cristo e a união com a Igreja de Cristo como condições necessárias para a salvação; e, no presente caso, a pessoa seria salva, mesmo sem ter tido a verdadeira fé em Jesus Cristo, sem estar em comunhão com a sua Igreja, mas que viveu e morreu em uma comunhão herética. Portanto, há grande razão para acreditar que tal caso jamais acontecerá, mas que uma pessoa criada na heresia, e invencivelmente ignorante da verdade, sendo privada das ajudas e graças que são consequências da verdadeira fé, e que só podem ser encontradas na verdadeira Igreja, não preservará sua inocência, mas, continuando na heresia, morrerá em seus pecados e será perdida; não precisamente porque não tenha a verdadeira fé, da qual supõe-se que seja invencivelmente ignorante, mas pelos outros pecados de que morrerá culpado.

* Charity and Truth, or Catholicks Not Uncharitable in Saying, That None Are Saved Out of the Catholick Communion (Because the Rule Is Not Universal), Edward Hawarden, 1809

P. 15 - Então ninguém que esteja em heresia e em ignorância invencível da verdade poderia ser salvo?

Deus nos livre de dizer tal coisa! Todas as razões acima apresentadas apenas provam que, se viverem e morrerem nesse estado, não serão salvos, e que, de acordo com a providência atual, não podem ser salvos; mas o grande Deus é capaz de tirá-los desse estado, de curar até mesmo a sua ignorância, embora invencível para eles em sua situação atual, de trazê-los ao conhecimento da verdadeira fé, à comunhão da sua Santa Igreja e à salvação: e acrescentamos ainda que, se Ele desejar, por sua infinita misericórdia, salvar qualquer um que esteja atualmente em ignorância invencível da verdade, para agir de maneira consistente consigo mesmo e com a sua Palavra Santa, Ele sem dúvida os levará à união com a sua Santa Igreja para esse fim, antes de morrerem.

P. 16 - Existem fundamentos nas Escrituras para essa doutrina?

Esta doutrina é baseada nas declarações mais positivas das Escrituras. Pois as Escrituras estabelecem esta verdade fundamental: 'O firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: o Senhor conhece os que são seus' (2Tm 2,19). Ou seja, Deus, desde toda a eternidade, conhece aqueles que, ao cooperar com as graças que Ele lhes concederá, perseverarão até o fim em sua fé e amor, e serão felizes com Ele para sempre. Agora, para toda a humanidade, sem exceção, e em qualquer estado, pagão, muçulmano, judeu ou herege, em ignorância invencível ou não, Deus, através dos méritos de Cristo, e por seu intermédio, dá as graças que Ele considera apropriadas para o seu estado atual, com o objetivo da sua salvação eterna; se eles cooperarem com as graças que Ele lhes dá, Ele lhes dará mais e maiores, até que os conduza ao fim feliz; mas, se resistirem e abusarem das graças que recebem, não lhes será dada mais graça, e eles serão deixados aos seus próprios caminhos, como justa punição pela sua ingratidão.

Portanto, aqueles a quem Deus Todo-Poderoso prevê que farão bom uso das suas graças e serão salvos, esses Ele os destina à vida eterna; e a todos esses, as Escrituras nos asseguram, Ele os conduzirá, no tempo e da maneira que julgar apropriada, ao conhecimento da verdadeira fé e à comunhão da sua Santa Igreja. Assim, 'O Senhor diariamente acrescentava à Igreja os que haviam de ser salvos' (At 2,47). Agora, o que o Senhor fez diariamente no tempo dos apóstolos, Ele continuará a fazer até o fim do mundo; e, como ninguém poderia ser salvo sem ser acrescentado à Igreja nesses dias, também ninguém poderá ser salvo depois disso; pois não há nova revelação desde os tempos dos apóstolos, descobrindo um caminho diferente para a salvação. Novamente, as Escrituras dizem que 'todos os que estavam predispostos para a vida eterna fizeram ato de fé' (At 13,48), isto é, foram trazidos à verdadeira fé que os apóstolos pregaram: o mesmo se fará sempre; pois, como antes, ninguém foi ordenado à vida eterna sem crer, assim também não haverá ninguém depois. 

Nosso Salvador decide este ponto em termos claros quando diz: 'Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor' (Jo 10, 16). Aqui, Ele fala claramente daqueles que ainda não ouviram a sua voz, porque eram judeus ou pagãos, e não estavam unidos ao aprisco dos seus apóstolos e outros discípulos; ainda assim, Ele os chama de suas ovelhas, porque 'o Senhor conhece os que são seus' e Ele previu quem cooperaria com a sua graça e seguiria a sua voz; agora Ele declara expressamente: 'preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz'. Não bastava para sua salvação que estivessem dispostos em seus corações a responder ao seu chamado e fazer o melhor que pudessem, se soubessem melhor; era necessário que realmente fossem trazidos à comunhão do seu próprio aprisco, 'preciso conduzi-las também'; era necessário que tivessem a verdadeira fé em Cristo, 'e ouvirão a minha voz', para garantir a sua salvação; pois, como Ele diz um pouco depois: 'Minhas ovelhas ouvem a minha voz, e Eu as conheço, e elas me seguem, e Eu lhes dou a vida eterna, e não perecerão para sempre, e ninguém as arrebatará da Minha mão' (Jo 10,27). 

Isso se torna ainda mais claro a partir do relato que São Paulo faz das várias etapas da Providência Divina na salvação dos eleitos e das principais graças concedidas a eles para esse grande fim; 'Porque aos que de antemão conheceu' - diz ele - 'também os predestinou para serem conformes à imagem do seu Filho; e aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou' (Rm 8,29-30). 29. Primeiro, ele estabelece o 'firme fundamento de Deus', mencionado acima, 'que tem este selo: o Senhor conhece os que são seus' (2Tm 2,19). Deus, desde toda a eternidade, previu quem faria bom uso dos talentos que Ele lhes concederia, e quem, perseverando até o fim, seria dEle para sempre. Agora, diz o apóstolo, 'aqueles que Ele previu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho'; ou seja, Ele preordenou que todos os seus eleitos se assemelhassem a Jesus Cristo, 'despojando-se do velho homem com suas obras, e revestindo-se do novo ... segundo a imagem daquele que os criou' (Cl 3,9). 

Para alcançar essa conformidade com Jesus Cristo, o próximo passo que Ele dá é chamá-los; pois, 'aos que predestinou, a esses também chamou', ou seja, ao conhecimento e à fé em Jesus Cristo, e à comunhão da sua Santa Igreja; isto é, Ele lhes concede graças internas e dispõe todas as circunstâncias externas para efetivamente conduzi-los a essa grande felicidade; e aos que assim chamou para a verdadeira fé, 'a esses também justificou', ou seja, sendo trazidos à verdadeira fé, 'sem a qual é impossível agradar a Deus', Ele continua a conceder-lhes mais graças, como medo, esperança, amor a Deus e arrependimento por seus pecados, com as quais, cooperando, são levados pelos seus santos sacramentos à graça da justificação. Graças maiores são concedidas a eles, e eles, perseverando até o fim em sua cooperação, são recebidos finalmente na glória eterna; pois 'aos que justificou, a esses também glorificou'. Aqui, é manifesto que nosso chamado à fé e à Igreja de Jesus Cristo é ordenado por Deus Todo-Poderoso como um passo essencial no processo de salvação, uma condição necessária a ser cumprida antes mesmo de sermos justificados da culpa de nossos pecados, e, consequentemente, que sem a verdadeira fé e fora da comunhão da Igreja de Cristo, não há possibilidade de salvação. Não é menos manifesto que, seja qual for o estado da pessoa, pagão, muçulmano, judeu ou herege, se Deus Todo-Poderoso prevê que essa pessoa cooperará com as graças que desde toda a eternidade Ele resolveu conceder-lhe, e permanecerá fiel até o fim, Ele de forma alguma permitirá que ela viva e morra em seu estado atual, mas ordenará as coisas, com a sabedoria divina para que, mais cedo ou mais tarde, ela seja levada à união com a Igreja de Cristo, fora da qual Ele ordenou que a salvação não pode ser encontrada.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO: AVE REGINA CAELORUM

Ave Regina Caelorum (Salve, Rainha dos Céus) é um hino de louvor a Nossa Senhora, exaltando a sua realeza sobre o céu e os anjos, sua beleza e graça incomparáveis e sua condição de medianeira entre os homens e Nosso Senhor Jesus Cristo. De autor desconhecido, o hino constitui uma das quatro antífonas da Liturgia das Horas que se cantam em cada estação do ano litúrgico. 

                                                                                         (LiturgyTools.net)


Salve, Rainha dos Céus,
Salve, Senhora dos Anjos:
Salve, ó Raiz; Salve, ó Porta 
pela qual a luz veio ao mundo.
Rejubila, ó Virgem gloriosa,
Entre todas a mais bela.
Adeus, ó beleza radiante,
e intercede por nós junto ao Cristo.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (III)

A imagem da Sagrada Família, composta pela presença da Virgem Maria, São José e o menino Jesus é bastante conhecida e venerada pelos cristãos.

Embora esta imagem tenha sido pintada por grandes mestres tanto do Ocidente quanto na iconografia ortodoxa e bizantina, este ícone é ainda motivo de polêmica e questionamento. Tal polêmica busca confrontar a representatividade desta imagem familiar, no sentido de que a iconologia ortodoxa não entende São José como o chefe de uma 'Sagrada Família' (o que, nessa interpretação equivocada,  implicaria diretamente em uma percepção enfraquecida da virgindade de Maria), mas apenas como o guardião providencial da Mãe de Deus e do seu Divino Filho. Neste contexto, o apequenamento de São José seria essencial para se compreender a dimensão maior da hierarquia divina da Sagrada Família. Tal visão distorcida confronta-se com a própria natureza e significado da iconografia cristã.


Com efeito, os ícones repreesentam imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e Mãe de Deus, dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Por meio destaa representação por imagens, somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos deles como modelos, como objetos de nosso amor e louvor e veneração, e não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um ícone venera a pessoa que se encontra nele representada. Nestes termos, tem-se como óbvio que tal polêmica, mais do que infantil e distorcida, é absurdamente ímpia no sentido de se buscar impor, como premissa, o apequenamento de São José (a ponto de não se aceitar a sua inserção na representação na família de Nazaré) para a elevação (mais do que conhecida) do papel da Mãe de Deus e do seu Divino Filho no plano da salvação e redenção da humanidade.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'É feliz quem a Deus se confia!' (Sl 1)

Primeira Leitura (Jr 17,5-8) - Segunda Leitura (1Cor 15,12.16-20) -  Evangelho (Lc 6,17.20-26)

  16/02/2025 - SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM 

O SERMÃO DA MONTANHA


O chamado 'Sermão da Montanha', conjunto de proposições expostas por Jesus naquele tempo a uma 'grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia' (Lc 6, 17) contempla, de forma admirável, a síntese do Evangelho e da doutrina cristã como legado do Reino dos Céus aos homens de todos os tempos.

O primado desta herança aos homens de todos os tempos se impôs quando o Senhor, diante da enorme multidão, volveu o seu olhar divino aos Apóstolos, antes de proferir as bem-aventuranças que expressam os preceitos e as virtudes que nos santificam e nos tornam herdeiros do Reino dos Céus. Na prática do amor e na busca da perfeição cristã, eis o legado de nossa santificação: 'Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é o Senhor' (Jr 17, 7).

Essa via de santidade é expressa pelo Senhor sempre em termos da sua concepção oposta: 'Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!' (Lc 6, 20) versus 'Mas ai de vós, os ricos, porque tendes já a vossa consolação' (Lc 6, 24). 'Bem-aventurados os que agora tendes fome, porque sereis saciados (Lc 6, 21) versus 'Ai de vós os que estais saciados, porque vireis a ter fome' (Lc 6, 25). 'Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir!' (Lc 6, 21) versus 'Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!' (Lc 6, 25). 'Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem!' (Lc 6, 22) versus 'Ai de vós quando todos vos elogiam!' (Lc 6, 26).

Com efeito, os caminhos da vida eterna não se conformam aos atalhos do mundo. Como Filhos de Deus, somos, desde agora, peregrinos do Céu mergulhados nas penumbras da fé e nas vertigens das realidades humanas, na certeza confiante do eterno reencontro: 'Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus' (Lc 6, 23).