terça-feira, 3 de dezembro de 2024

ANO LITÚRGICO 2024 - 2025

Ano Litúrgico 2024-2025, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (01/12/2024) até a solenidade de Cristo Rei do Universo (23/11/2025), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. O Ano Litúrgico 2024-2025 é o Ano C, no qual os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras principais, retiradas do Evangelho de São Lucas, com exceção de ocasiões especiais (as chamadas Festas e Solenidades do rito litúrgico), quando são utilizadas leituras específicas do Evangelho de São João.

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem AdventoNatalQuaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus (12/01/2025) e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas (05/03/2025), quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (08/06/2025) e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento (30/11/2025), quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.





segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO


Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a Segunda manifestará a coroa da realeza divina.

Aliás tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos séculos; depois nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.

Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.

Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: 'Bendito o que vem em nome do Senhor' (Mt 19,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: 'Bendito o que vem em nome do Senhor'.

Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer naquele que subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.

(Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém)

domingo, 1 de dezembro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Senhor meu Deus, a Vós elevo a minha alma!' (Sl 24)

Primeira Leitura (Jr 33,14-16) - Segunda Leitura (1Ts 3,12-4,2) -  Evangelho (Lc 21,25-28.34-36)

  01/12/2024 - PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO 

'FICAI ATENTOS PARA FICARDES DE PÉ'


Hoje começa um novo ano litúrgico da Santa Igreja com o Tempo do Advento, período que os cristãos são conclamados a viver em plenitude as graças da expectativa, da conversão e da esperança, à espera do Senhor Que Vem. O Ano Litúrgico 2024-2025 é o Ano C, no qual os exemplos e ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras do Evangelho de São Lucas.

O Tempo do Advento compõe-se de um período de quatro semanas, representando os séculos de espera da humanidade pela vinda do Redentor. A primeira semana é dedicada aos Novíssimos do homem e à segunda vinda de Nosso Senhor. A segunda e a terceira semanas são dedicadas ao Precursor João Batista e a quarta semana, à preparação para o nascimento já próximo do Salvador (no Natal). Nesse período, a liturgia se reveste de austeridade, utilizando-se de paramentos roxos, retirando as flores de ornamentação das igrejas e omitindo-se o canto do Glória durante a Santa Missa.

Assim, o novo ano litúrgico começa com o anúncio por Jesus de sua Segunda Vinda gloriosa aos homens dos tempos finais: 'eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória' (Lc 21, 27), manifestação que será precedida por eventos portentosos: 'Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas' (Lc 21, 25 - 26). Jesus exorta, então, a todos os seus discípulos (os Apóstolos e os homens em geral) sobre a necessidade da estrita vigilância, na oração constante e na confiança de uma vida de plenitude cristã, diante das coisas do mundo, que passam e repassam no cotidiano de nossas vidas, mas que não têm valores de eternidade: 'Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra' (Lc 21, 34 - 35).

Vigiar significa essencialmente não pecar, não ofender a Santidade de Deus com as misérias e as fragilidades humanas, não conspurcar a Infinita Pureza da alma, que nos foi legada um dia, com a lama dos prazeres, frivolidades e maldades de uma vida profanada pelos valores do mundo. Porque haverá o dia do juízo, no qual os homens serão levados ou deixados para trás: ''ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem' (Lc 21, 36). Vigiar é viver na confiança absoluta aos ditames de Divina Providência: 'levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima' (Lc 21, 28). Vigiar é estar preparado para que sejam santos todos os dias de nossa vida para que Deus escolha, dentre eles, o mais belo, para receber de volta as almas vigilantes que Ele próprio desenhou para a eternidade.

sábado, 30 de novembro de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XCII)

Capítulo XCII

Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - O Castigo para com os que Esquecem as Almas Sofredoras - Venerável Archangela Panigarola e a Alma do seu Pai

Se as almas são tão gratas para com os seus benfeitores, Nosso Senhor Jesus Cristo, que as ama, que recebe como feito a si mesmo todo o bem que lhes proporcionamos, dar-lhes-á uma recompensa abundante, muitas vezes ainda nesta vida, e sempre na outra. Ele considera os que fazem misericórdia e castiga os que se esquecem de a fazer para com as almas sofredoras.

Vejamos primeiro um exemplo de castigo. A Venerável Archangela Panigarola, religiosa dominicana e prioresa do Mosteiro de Santa Marta de Milão, tinha um zelo extraordinário pelo alívio das almas do Purgatório. Rezava e obtinha orações por todos os seus amigos falecidos, e até por aqueles que lhe eram desconhecidos, mas de cuja morte tinha sido avisada. Seu pai, Gothard, a quem ela amava ternamente, era um desses cristãos do mundo que raramente pensavam em rezar pelos mortos. Ele próprio morreu e, muito desconsolada, Archangela compreendeu que o seu querido pai precisava mais das suas orações do que das suas lágrimas. Por isso, tomou a resolução de o recomendar a Deus por sufrágios especiais. Mas, por estranho que pareça, esta resolução quase nunca foi posta em prática; esta rapariga, tão piedosa e devota do seu pai, fez muito pouco pela sua alma. Deus permitiu que, apesar das suas santas resoluções, ela o esquecesse continuamente e se interessasse por outros. 

Por fim, um acontecimento inesperado explicou este esquecimento inusitado e despertou a sua devoção em favor do pai. No dia da festa de todos os santos, permaneceu isolada na sua cela, ocupada exclusivamente em exercícios de piedade e penitência para alívio das santas almas. De repente, o seu anjo apareceu-lhe, tomou-a pela mão e conduziu-a em espírito ao Purgatório. Entre as primeiras almas que viu, reconheceu a de seu pai, mergulhada numa lagoa de água gelada. Mal Gothard viu sua filha e, aproximando-se dela, censurou-a dolorosamente por tê-lo abandonado em seus sofrimentos, enquanto ela mostrava tanta caridade para com os outros, a quem constantemente socorria, e frequentemente livrava aqueles que, no entanto, lhe eram estranhos.

Archangela ficou durante algum tempo confusa diante estas censuras, que sabia merecer; em breve, porém, derramando uma torrente de lágrimas, respondeu: 'Farei, meu querido pai, tudo o que me pedes. Queira Deus dar ouvidos às minhas súplicas e livrar-te rapidamente'. Enquanto isso, ela não podia se recuperar de seu espanto, nem entender como ela poderia ter esquecido tanto o seu amado pai. Depois de a levar de volta, o seu anjo disse-lhe que esse esquecimento tinha acontecido por uma disposição da Justiça Divina. 'Deus' - disse ele - 'permitiu assim como castigo pelo pouco zelo que, durante a vida, o teu pai manifestou por Deus, pela sua própria alma e pela do seu próximo. Vistes como ele foi atormentado e entorpecido num lago de gelo; este foi o castigo da sua tepidez no serviço de Deus e da sua indiferença em relação à salvação das almas'.

'Vosso pai não era um homem imoral, é verdade, mas mostrava pouca inclinação para a aquisição da virtude e para a prática das obras de piedade e caridade a que a Igreja exorta os fiéis. É por isso que Deus permitiu que ele fosse esquecido, mesmo por vós, que lhe teríeis dado demasiado alívio. Este é o castigo que a Justiça Divina costuma infligir àqueles que faltam com o fervor e a caridade. Ele permite que os outros se comportem em relação a eles como agiram para com Deus e para com seus irmãos. Aliás, esta é a regra de Justiça que nosso Salvador estabeleceu no Evangelho: com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos' (Mt 7,2).

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (VII)

  

SÁBADO - SOBRE O PARAÍSO

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. Quanto mais espanta a consideração do Inferno, tanto mais consola a do Paraíso, que foi preparado por Deus para todos os que o amam e servem na vida presente. Para fazeres uma idéia dele, imagina uma noite serena. Que belo é o céu, com tanta multidão e variedade de estrelas! Umas são maiores que outras; enquanto algumas delas aparecem pelo Oriente, outras desaparecem no Ocidente, sendo muito variadas no que diz respeito ao tamanho, cor, etc. Mas todas elas se movem, na imensidão do espaço, com admirável harmonia e segundo a vontade de Deus, seu Criador.

Imagina ademais que a luz do sol te deixe ver durante um belo dia a lua e as estrelas que há no firmamento; imagina também tudo o que há de precioso no mar, na terra, nos diversos países, nas cidades e nos palácios dos reis e monarcas de todo o mundo; acrescenta a isto as mais finas bebidas, os alimentos mais saborosos, a música mais doce, a harmonia mais suave. Pois tudo isso é nada, comparado com a excelência dos bens e dos gozos do Paraíso! Quanto devemos desejar a posse daquele lugar, onde se gozam todos os bens, sem mescla alguma de mal! A alma bem-aventurada só poderá exclamar: 'Eu me saciarei com a visão da vossa glória' (Sl 16,15).

II. Considera, ademais, a alegria que tua alma sentirá ao entrar no Paraíso. Sairão a recebê-la teus parentes e amigos, e ali verás a nobreza e beleza dos querubins e serafins, de todos nos anjos e de todos os santos, que em multidão louvam ao seu Criador. Verás também os Apóstolos, o imenso número de Mártires, Confessores e Virgens, e ademais uma grande multidão de jovens que se conservaram puros e por isso cantam a Deus um hino de glória inefável. Ó quanto gozam naquele Reino os bem aventurados! Estão sempre alegres, pois não padecem o menor sofrimento, nem penas que venham turbar sua paz e contentamento.

III. Observa ademais, meu filho, que tudo isso não é nada em comparação com o grande consolo que sentirá a alma ao ver a Deus. Ele consola os bem aventurados com seu olhar amoroso e derrama em seu coração torrentes de delícias. Assim como o sol ilumina e embeleza todos os objetos onde chega sua luz, assim Deus ilumina com sua presença todo o Paraíso e cumula seus felizes habitantes com prazeres inexprimíveis.

Nele, como num espelho, verás todas as coisas, gozarás de todos os prazeres da mente e do coração. Quanto, no Monte Tabor, São Pedro viu uma única vez o rosto de Jesus radiante de luz, foi cumulado de tanta doçura, que fora de si exclamou: 'É bom para nós estar aqui!' (Lc 9,33). Que alegria será então o contemplar, não por um instante, mas para sempre, a vista daquela face divina que apaixona os anjos e os santos, e que embeleza todo o Paraíso!

E a formosura e a amabilidade de Maria, de quanto gozo inundará o coração dos bem aventurados! 'Como são amáveis as tuas moradas, Senhor Deus dos Exércitos!' (Sl 83,2). Por isso, todos os coros de anjos e todos os bem aventurados cantarão a sua glória, dizendo: 'Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos! A Ele toda a honra e toda a glória, por todos os séculos dos séculos'.

Coragem, pois, meu filho! Algo terás que sofrer neste mundo, mas não importa! O prêmio que te espera no Paraíso compensará infinitamente todos os males que tenhas padecido na vida presente. Que consolo será o teu quando te encontrares no Céu em companhia de parentes e amigos, dos santos e dos bem aventurados, e puderes exclamar: 'Estou salvo e estarei para sempre com o Senhor!' Então bendirás o momento em que deixaste o pecado, em que fizeste uma boa confissão e começaste e frequentar os sacramentos. Bendirás o dia em que, deixando as más companhias, te entregaste à virtude. E, cheio de gratidão, te voltarás ao teu Deus e lhe cantarás louvores e glórias por todos os séculos dos séculos. Assim seja.

(São João Bosco)

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

VERSUS: ORAÇÃO PARA DEUS X PERSEVERANÇA POR DEUS


'Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões' (Tg 4,3)

Pedimos mal porque rezamos mal. Rezamos e pedimos por bênçãos temporais que nos sejam atraentes e vantajosas. Queremos isso e aquilo para nosso agrado e interesse. No espelho das nossas miragens, Deus perscruta a nossa alma. Todo bem e toda graça provêm de Deus e nos é dada, na magnitude dos desígnios divinos, para o bem da nossa alma e para maior glória de Deus. Nada além disso. 'Pedis e não recebeis' porque pedis apenas para vós. A nossa oração de súplica pode ter qualquer boa intenção temporal, mas implica pedi-la sempre com o complemento: ... 'desde que seja para o bem da minha alma e para maior glória de Deus!'

'Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja perfeita' (Jo 16,24)



'Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12,12)

De todas as graças espirituais possíveis, pedi insistentemente a graça da perseverança final pois é, por meio dela, que se pode alcançar a vida eterna em Deus. A preservação do estado de graça até o último suspiro do homem nessa terra é um milagre de amor divino porque tal graça só é possível por uma especial concessão divina às almas eleitas, que se alimentam o tempo inteiro com os frutos de uma oração contínua. Oração feita pela mente, pelos lábios, pelas mãos, no descanso ou na labuta diária, em cada gesto concreto da criatura que se molda à santa vontade do Criador.

'pois vos é necessária a perseverança para fazerdes a vontade de Deus e alcançardes os bens prometidos' (Hb 10,36)

MEDITAÇÕES PARA CADA DIA DA SEMANA (VI)

 

SEXTA FEIRA - SOBRE A ETERNIDADE DAS PENAS

Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração por vos ter ofendido; peço-vos a graça de compreender as verdades que vou meditar e de inflamar-me de amor por Vós. Virgem Santíssima, Mãe de Jesus, rogai por mim.

I. Considera, meu filho, que se caíres no Inferno, dele jamais sairás. Nele se padecem todas as penas, e todas elas para sempre. Passarão cem anos, mil anos, e o Inferno estará apenas começando; passarão cem mil anos, cem milhões de anos, milhões de milhões de anos e de séculos...e o Inferno estará ainda apenas começando.

Se um anjo anunciasse a um condenado que Deus haveria de livrá-lo do Inferno depois de passar tantos milhões de séculos como gotas de água que há no mar, ou folhas de árvores e grãos de areia no mundo, essa notícia lhe causaria logo um consolo indizível. 'É certo' - exclamaria - 'que é imenso o número de séculos que sofrerei, afinal, haverá um dia em que eles acabarão'. Mas, ai, passarão esses milhões de séculos e uma infinidade de outros, e o Inferno estará sempre apenas começando.

Cada condenado quereria poder dizer a Deus: 'Senhor, aumentai quanto quiserdes minhas penas, e fazei-me permanecer aqui o tempo que quiserdes, contanto que me deis a esperança de ver este suplício acabar um dia!' Mas não!Esse término e essa esperança jamais chegarão.

II. Se ao menos o condenado pudesse iludir-se a si mesmo, pensando consigo: 'Quem sabe se Deus algum dia terá piedade de mim e me tirará deste abismo!' Mas, não! Jamais abrigará esta esperança! O condenado terá sempre presente a sentença de sua condenação eterna: 'Este tormentos, este fogo, estes horríveis gritos, eu os terei para sempre'.

'Sempre' verá escrito nas chamas que o devoram. 'Sempre' na ponta das espadas que o transpassam; 'Sempre' nas horríveis fisionomias dos demônios que o atormentam; 'Sempre' naquelas portas fechadas que jamais se abrirão para ele!

Ó eternidade, ó abismo sem fundo! Ó mar sem limites! Ó caverna sem saída! Quem não tremerá pensando em ti? Ó maldito pecado, que tremendos suplícios preparas para quem os comete! Ah!Basta de pecados, basta de pecados em toda a minha vida!

III. O que deve encher-te de espanto é pensar que essa horrível fornalha está sempre aberta debaixo de teus pés e que basta um único pecado mortal para cair nela. Compreendes, meu filho, isto que lês? Um pecado que cometes com tanta facilidade merece uma pena eterna. Uma blasfêmia, uma profanação dos dias festivos, um furto, um ódio, uma palavra, um ato, um pensamento obsceno, bastam para condenar-te às penas do Inferno.

Ah, meu filho, ouve atentamente o meu conselho; se a consciência te censura de algum pecado, vai imediatamente confessar-te para principiar logo uma boa vida; põe em prática todos os conselhos do teu confessor e, se for necessário, faz uma confissão geral; promete fugir das ocasiões perigosas, das más companhias, e se Deus te chamar a deixar o mundo, obedece-lhe com prontidão.

Tudo o que se faz para evitar uma eternidade de tormentos é pouco, é nada: 'nenhuma segurança é excessiva quando está em jogo a eternidade', escreveu São Bernardo. Ó quantos jovens na flor da idade abandonaram o mundo, a pátria, a família e foram sepultar-se nas grutas e desertos, não vivendo senão de pão e água, às vezes só de algumas raízes! E tudo isso para evitarem o Inferno!

E tu, o que fazes, depois de merecer tantas vezes o Inferno pelo pecado? Lança-te aos pés de teu Deus e diz a Ele: 'Senhor, vede-me pronto a fazer tudo o que quiserdes; já vos ofendi demais até agora; de hoje em diante não quero mais vos ofender; enviai-me, se preciso, todos os males nesta vida, desde que eu possa salvar a minha alma!'

(São João Bosco)