domingo, 22 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 22 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

22 de dezembro

O Rex gentium
et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem de limo formasti  


Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes. 

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos! (Sl 79)

Primeira Leitura (Mq 5,1-4a) - Segunda Leitura (Hb 10,5-10) -  Evangelho (Lc 1,39-45)

  22/12/2024 - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO 

JESUS, ENTRA NA MINHA CASA!


No Quarto Domingo do Advento, o Jesus Esperado chega, através de Maria, à casa de Zacarias e Isabel. Santa e desmedida alegria, que faz João Batista estremecer de júbilo no ventre de sua mãe. Santa e ditosa alegria que faz Isabel inundar-se do Espírito Santo. Santa e materna alegria de Maria em manifestar ao mundo o bendito fruto do seu ventre. Eis Maria na casa de Isabel, testemunhas privilegiadas da revelação do maior dos mistérios divinos: Jesus, o filho de Deus vivo, no meio dos homens!

Eis Maria, o portento da fé humana, obra prima da graça do Pai, tangida por um único pensamento: cumprir, com fidelidade absoluta, a vontade de Deus: feita escrava, serva do senhor, é a 'bem aventurada que acreditou' (Lc 1,45) e que, por isso, verá cumprir-se tudo 'o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,45). Maria leva Jesus à casa de Isabel e revela aos dois anciãos a chegada do Salvador ao mundo; Maria acolhe Jesus em sacrário de tão pura humanidade que faz João Batista estremecer de alegria; na casa de Zacarias e Isabel, toda a humanidade que anseia por Deus, acolhe Jesus como Salvador com santa e ditosa alegria.

Maria vai apressadamente ao encontro de Isabel, sob o impulso da graça, para cumprir a vontade de Deus, como serva para ajudar a gravidez avançada da parenta mais velha, como mensageira da esperança cristã, como mãe do Salvador e Redentor da humanidade, para cumprir a sua missão expressa no 'sim' da Anunciação. E é recebida com virtude filial, com alegria extrema, com devoção incontida, com zelo admirável por Isabel, pré-anunciadora dos corações incendidos da graça do Deus que está prestes a chegar ao mundo: 'Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?' (Lc 1, 42 - 43).

Jesus em Maria é o Jesus que vem, para libertar o mundo do pecado, para fazer novas todas as coisas, para a salvação de todos os que abrem as portas e janelas de suas casas ao Cristo que chega, que transformam seus corações em humildes manjedouras onde Ele possa renascer. Como na casa de Zacarias e Isabel, que Jesus possa entrar, com Maria, na minha e na sua casa, neste Santo Natal!

sábado, 21 de dezembro de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XCIII)

 

Capítulo XCIII

Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - Santa Catarina de Sena e a Salvação da Alma de Palmerine - Santa Madalena de Pazzi e sua Mãe

Deus está mais inclinado a recompensar do que a punir e, se inflige um castigo àqueles que esquecem as almas tão caras ao seu Coração, mostra-se verdadeiramente grato àqueles que o auxiliam junto às almas sofredoras. Em recompensa, dir-lhes-á um dia: 'Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado. Tivestes misericórdia dos vossos irmãos necessitados e sofredores; em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes' (Mt 25,40). Muitas vezes, nesta vida, Jesus recompensa as almas compassivas e caridosas com a concessão de muitos favores. 

Santa Catarina de Sena, pela sua caridade, converteu uma pecadora chamada Palmerine, que morreu e foi para o Purgatório. A santa não descansou enquanto não libertou esta alma. Em recompensa, Nosso Senhor permitiu mostrar-se à sua serva, como uma conquista gloriosa da sua caridade. O Beato Raymond conta assim os pormenores: Em meados do século XIV, quando Santa Catarina edificava a sua cidade natal com toda a espécie de obras de misericórdia, uma mulher de nome Palmerine, depois de ter sido objeto da sua mais terna caridade, concebeu uma secreta aversão pelos seus benfeitores, que chegou a degenerar em ódio implacável. Não podendo mais ver nem ouvir a santa, a ingrata Palmerine, amargurada contra a serva de Deus, não cessava de manchar a sua reputação com as mais atrozes calúnias. Catarina fez tudo o que estava ao seu alcance para a conciliar, mas em vão. Então, vendo que a sua bondade, a sua humildade e os seus benefícios não serviam senão para excitar a fúria desta infeliz mulher, implorou fervorosamente a Deus que se dignasse mover aquele coração tão obstinado.

Deus ouviu a sua oração, atingindo Palmerine com uma doença mortal; mas, ainda assim, este castigo não foi suficiente para a fazer entrar em si. Em troca de toda a ternura que a santa lhe dedicava, a infeliz mulher carregou-a de insultos e expulsou-a da sua presença. Entretanto, o seu fim aproximava-se e um sacerdote foi chamado para administrar os últimos sacramentos. A doente não estava em condições de os receber, devido ao ódio que alimentava e ao qual se recusava a renunciar. Ao ouvir isto, e vendo que a infeliz criatura já tinha um pé no Inferno, Catarina derramou uma torrente de lágrimas e ficou inconsolável. Durante três dias e três noites, não cessou de suplicar a Deus em seu favor, juntando o jejum à oração. 'Senhor' - dizia ela - 'permitirás que esta alma se perca por minha causa? Conjuro-vos que me concedais, a qualquer preço, a sua conversão e a sua salvação. Castigai-me pelo seu pecado, de que eu sou a causa: não é a ela, mas a mim, que o castigo deve atingir. Senhor, não me recuseis a graça que vos peço: não vos deixarei enquanto não a tiver obtido. Em nome da vossa bondade, da vossa misericórdia, suplico-vos, misericordiosíssimo Salvador, que não permitais que a alma desta minha irmã deixe o seu corpo enquanto não for restituída à vossa graça'.

A sua oração, acrescenta o seu biógrafo, foi tão poderosa que impediu a morte da doente. A sua agonia durou três dias e três noites, para grande espanto das enfermeiras. Durante este tempo, Catarina continuou a interceder e acabou por obter a vitória. Deus não resistiu e fez um milagre de misericórdia. Um raio de luz celeste penetrou no coração da moribunda, mostrou-lhe a sua culpa e incitou-a ao arrependimento. A santa, a quem Deus revelou isto, apressou-se a ir ter com a doente. Logo que a mulher a viu, deu-lhe todos os sinais de consideração e agradecimento, acusou-se em voz alta da sua falta, recebeu com piedade os últimos sacramentos e morreu na graça de Deus.

Apesar da sinceridade da sua conversão, era de recear que uma pecadora que escapara por pouco ao Inferno tivesse de passar por um Purgatório severo. A caridosa Catarina continuou a fazer tudo o que estava ao seu alcance para apressar o momento em que Palmerine seria admitido à glória do Paraíso. Tanta caridade não podia deixar de ter a sua recompensa. Nosso Senhor - escreve o Beato Raymond - mostrou à sua esposa aquela alma salva pelas suas orações. Era tão brilhante que ela me disse não encontrar palavras capazes de exprimir a sua beleza. Não estava ainda admitida à glória da visão beatífica, mas tinha aquele brilho que a criação e a graça do batismo lhe conferem. Nosso Senhor disse-lhe então: 'Olha, minha filha, esta alma perdida que encontraste!' E acrescentou: 'Não te parece muito bela e preciosa? Quem não suportaria todo o tipo de sofrimento para salvar uma criatura tão perfeita e introduzi-la na vida eterna? Se Eu, que sou a Beleza Suprema, de quem emana toda a beleza, me deixei cativar pela beleza das almas, a ponto de descer à terra e derramar o meu Sangue para as redimir, com quanto maior razão não deveríeis trabalhar uns pelos outros, para que não se percam criaturas tão admiráveis. Se vos mostrei esta alma, foi para que sejais ainda mais zelosos em tudo o que diz respeito à salvação das almas'.

Santa Madalena de Pazzi, tão cheia de devoção pelos mortos, esgotou todos os recursos da caridade cristã em favor de sua mãe, depois que esta partiu desta vida. Quinze dias depois da sua morte, Jesus, querendo consolar a sua esposa, mostrou-lhe a alma da sua querida mãe. Madalena viu-a no Paraíso, vestida com um esplendor deslumbrante e rodeada de santos, que pareciam ter grande interesse por ela. Ouviu a alma bendita dar-lhe três ordens, que ficaram para sempre impressas na sua memória: 'Cuida, minha filha' - disse ela - 'de descer o mais baixo possível na humildade, de observar a obediência religiosa e de cumprir com prudência tudo o que ela prescreve'. Dizendo isso, Madalena viu sua abençoada mãe desaparecer de vista e permaneceu inundada com a mais doce consolação.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

ANTÍFONA DO Ó - 21 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

21 de dezembro

O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis.  


Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

FILIUS DEI


'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus'
(Lc 1,35).

ANTÍFONA DO Ó - 20 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

20 de dezembro 

O Clavis David
et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis   


Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

PELA GRAÇA DE DEUS FOMOS SALVOS!

Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos. A audição é nossa semeadura e nossos atos, frutos da semente. Disse isto de antemão para exortar vossa caridade a não entrardes sem fruto na igreja, ouvindo tantas coisas boas sem realizá-las. Porque por sua graça fomos salvos, assim diz o Apóstolo, não por nossas obras para que  não aconteça alguém se ensoberbecer (Ef 2,8-9) pois, foi por sua graça, que fomos salvos (Ef 2,5). Pois não precedeu nenhuma vida virtuosa que Deus pudesse amar e dizer: 'Ajudemos, socorramos estes homens porque vivem bem'. Desagradava-lhe nossa vida, desagradava-lhe em nós tudo o que fazíamos, mas não lhe desagradava o que Ele mesmo fez em nós. Por isto, o que nós fizemos, ele o condenará; o que Ele próprio fez, Ele o salvará.

Não éramos bons. Mas Ele se compadeceu de nós e enviou o seu Filho para morrer não pelos bons, mas pelos maus, não pelos justos, mas pelos ímpios. Na verdade Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E como continua? Mal se encontra alguém que morra por um justo, pois talvez alguém se atreva a morrer por um bom (Rm 5,7). Talvez haja alguém que ouse morrer por um bom. Mas pelo injusto, pelo ímpio, pelo iníquo, quem quererá morrer? Só Cristo, para que, justo, justifique até mesmo os injustos.

Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, sua misericórdia não abandonou os homens. Deus enviou seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de seu sangue derramado, cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça. Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados. Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio médico.

Sigamos os caminhos que ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que Ele mesmo se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E, com sua morte, matar nossa morte.

Fez isto o Senhor, isto nos concedeu. O excelso humilhou-se, humilhado foi morto e, ressurgindo, foi exaltado, a fim de não nos deixar mortos nas profundezas, mas de exaltar em si na ressurreição dos mortos aqueles que já agora exaltou pela fé e o testemunho dos justos. Deu-nos então a humildade como caminho. Se nos agarrarmos a ela, confessaremos o Senhor e com toda razão cantaremos: 'Nós te confessaremos, Senhor, confessaremos e invocaremos o teu nome' (Sl 74,2).

(Dos Sermões de Santo Agostinho)