O bem convive assiduamente com o aparente triunfo dos ímpios. A cilada mortal seria tornar-se um deles e atuar a favor do reino da iniquidade. As Sagradas Escrituras - particularmente os Salmos - oferecem aos justos o caminho da Verdade: nunca invejar a prosperidade dos maus ou o aparente triunfo do mal, mas permanecer firmes sob o bem e a graça que só podem emanar de Deus, porque a morte será sempre o fim de tudo e o começo do preço a pagar na vida eterna.
'Não te irrites por causa dos que agem mal, nem invejes os que praticam a iniquidade, pois logo eles serão ceifados como a erva dos campos, e como a erva verde murcharão. Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança. Põe tuas delícias no Senhor, e os desejos do teu coração ele atenderá. Confia ao Senhor a tua sorte, espera nele, e ele agirá. Como a luz, fará brilhar a tua justiça; e como o sol do meio-dia, o teu direito. Em silêncio, abandona-te ao Senhor, põe tua esperança nele. Não invejes o que prospera em suas empresas, e leva a bom termo seus maus desígnios. Guarda-te da ira, depõe o furor, não te exasperes, que será um mal, porque os maus serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra. Mais um pouco e não existirá o ímpio; se olhares o seu lugar, não o acharás. Quanto aos mansos, possuirão a terra, e nela gozarão de imensa paz' (Sl 36,1-11).
'Por que ter medo nos dias de infortúnio, quando me cerca a malícia dos meus inimigos? Eles confiam em seus bens, e se vangloriam das grandes riquezas. Mas nenhum homem a si mesmo pode salvar-se, nem pagar a Deus o seu resgate. Caríssimo é o preço da sua alma, jamais conseguirá prolongar indefinidamente a vida e escapar da morte, porque ele verá morrer o sábio, assim como o néscio e o insensato, deixando a outrem os seus bens. O túmulo será sua eterna morada, sua perpétua habitação, ainda que tenha dado a regiões inteiras o seu nome, pois não permanecerá o homem que vive na opulência: ele é semelhante ao gado que se abate. Este é o destino dos que estultamente em si confiam, tal é o fim dos que só vivem em delícias. Como um rebanho serão postos no lugar dos mortos; a morte é seu pastor e os justos dominarão sobre eles. Depressa desaparecerão suas figuras, a região dos mortos será sua morada. Deus, porém, livrará minha alma da habitação dos mortos, tomando-me consigo' (Sl 48,6-16).
'Ó como Deus é bom para os corações retos, e o Senhor para com aqueles que têm o coração puro! Contudo, meus pés iam resvalar, por pouco não escorreguei, porque me indignava contra os ímpios, vendo o bem-estar dos maus: não existe sofrimento para eles, seus corpos são robustos e sadios. Dos sofrimentos dos mortais não participam, não são atormentados como os outros homens. Eles se adornam com um colar de orgulho, e se cobrem com um manto de arrogância. Da gordura que os incha sai a iniquidade, e transborda a temeridade. Zombam e falam com malícia, discursam, altivamente, em tom ameaçador. Com seus propósitos afrontam o céu e suas línguas ferem toda a terra. Por isso, se volta para eles o meu povo, e bebe com avidez das suas águas. E dizem então: “Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disso?”. Assim são os pecadores que, tranquilamente, aumentam suas riquezas' (Sl 72, 1-12).
'Então, foi em vão que conservei o coração puro e na inocência lavei as minhas mãos? Pois tenho sofrido muito e sido castigado cada dia. Se eu pensasse: “Também vou falar como eles”, seria infiel à raça de vossos filhos. Reflito para compreender este problema, mui penosa me pareceu esta tarefa, até o momento em que entrei no vosso santuário e em que me dei conta da sorte que os espera. Sim, vós os colocais num terreno escorregadio, à ruína vós os conduzis. Eis que subitamente se arruinaram, sumiram, destruídos por catástrofe medonha. Como de um sonho ao se despertar, Senhor, levantando-vos, desprezais a sombra deles. Quando eu me exasperava e se me atormentava o coração, eu ignorava, não entendia, como um animal qualquer. Mas estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão e, por fim, na glória me acolhereis. Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra. Meu coração e minha carne podem já desfalecer, a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus. Sim, perecem aqueles que de vós se apartam, destruís os que procuram satisfação fora de vós. Mas, para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é por minha confiança no Senhor Deus, a fim de narrar as vossas maravilhas diante das portas da filha de Sião' (Sl 72, 13-28).