P.5 - Mas se um homem agir de acordo com os ditames de sua consciência e seguir exatamente a luz da razão que Deus implantou nele como guia, isso não seria suficiente para conduzi-lo à salvação?
Esta é, de fato, uma proposição aparentemente atraente; mas há uma falácia subjacente. Quando o homem foi criado, sua razão era então uma razão iluminada, esclarecida pela graça da justiça original, com a qual sua alma estava adornada. A razão e a consciência eram guias seguros para conduzi-lo ao caminho da salvação. Mas, pelo pecado, essa luz foi miseravelmente obscurecida e sua razão nublada pela ignorância e erro. Não foi, de fato, completamente extinta; ainda ensina claramente muitas grandes verdades, mas atualmente está tão influenciada pelo orgulho, paixão, preconceito e outros motivos corruptos que, em muitos casos, serve apenas para confirmar o erro, dando aparência de razão às sugestões do amor-próprio e da paixão. Isso é muito comum, mesmo nas coisas naturais; mas no sobrenatural, nas coisas que dizem respeito a Deus e à eternidade, nossa razão, se deixada por si mesma, é miseravelmente cega. Para remediar isso, Deus nos deu a luz da fé como um guia seguro para nos conduzir à salvação, designando a sua santa Igreja como guardiã e depositária dessa luz celestial; consequentemente, embora um homem possa pretender agir de acordo com a razão e a consciência, e até se iludir pensando que o faz, ainda assim, a razão e a consciência, se não estiverem iluminadas e guiadas pela verdadeira fé, jamais poderão conduzi-lo à salvação.
P.6 - As Sagradas Escrituras fornecem alguma luz sobre este assunto?
Nada pode ser mais claro do que as palavras das Sagradas Escrituras: 'Há um caminho' - diz o sábio - 'que ao homem parece direito, mas cujo fim conduz à morte' (Pv 14,12) e isso é repetido em (Pv 16,25). O que pode ser mais claro do que isso, para mostrar que um homem pode agir de acordo com o que pensa ser a luz da razão e da consciência, persuadido de que está fazendo o que é certo, e ainda assim, na realidade, está apenas seguindo pelo caminho da perdição? E não pensam todos aqueles que são seduzidos por falsos profetas e falsos mestres que estão no caminho certo? Não é sob o pretexto de agir de acordo com a consciência que são seduzidos? E ainda assim, a própria boca da verdade declarou: 'Se o cego guiar o cego, ambos cairão na mesma cova' (Mt 15,14).
Para nos mostrar até onde pode chegar a maldade humana sob o pretexto de seguir a consciência, a mesma Verdade Eterna diz aos Seus apóstolos: 'A hora vem em que todo aquele que vos matar pensará que presta serviço a Deus' (Jo 16,2), mas observe o que Ele acrescenta: 'E farão isso porque não conhecem o Pai nem a Mim' (Jo 16,3), o que mostra que, se alguém não tem o verdadeiro conhecimento de Deus e de Jesus Cristo, o qual só pode ser obtido pela verdadeira fé, não há qualquer atrocidade da qual ele não seja capaz, pensando que está agindo de acordo com a razão e a consciência. Se tivéssemos apenas a luz da razão para nos orientar, estaríamos justificados em segui-la; mas como Deus nos deu um guia externo em sua santa Igreja, para auxiliar e corrigir nossa razão cega pela luz da fé, nossa razão sozinha, sem a assistência desse guia, nunca poderá ser suficiente para a salvação.
Nada esclarecerá isso melhor do que alguns exemplos. A consciência de um pagão lhe diz que não é apenas lícito, mas um dever adorar e oferecer sacrifício a ídolos, obra das mãos dos homens. Isso o salvará, fazendo-o de acordo com sua consciência? Ou esses atos de idolatria serão inocentes ou agradáveis aos olhos de Deus, porque realizados de acordo com a consciência? Acrescente a isso Veja acima, sec. 3, nº 9, a resposta que a Palavra de Deus dá a essa questão; a isso acrescente a de um sábio, 'O ídolo feito por mãos humanas é amaldiçoado, assim como quem o fez... pois o que é feito, juntamente com quem o fez, sofrerá tormentos' (Sb 14,8.10); 'Quem sacrificar a deuses que não ao Senhor será condenado à morte' (Ex 22,19). Da mesma forma, a consciência de um judeu lhe diz que pode blasfemar contra Jesus Cristo e aprovar a conduta de seus antepassados ao matá-lo na cruz. Tal blasfêmia o salvará, porque está de acordo com os ditames de sua consciência?
O Espírito Santo, pela boca de São Paulo, diz: 'Se alguém não ama nosso Senhor Jesus Cristo, seja anátema' ou seja, 'amaldiçoado' (1Cor 16,22). Um muçulmano é ensinado por sua consciência que seria um crime crer em Jesus Cristo e não crer em Maomé; essa consciência ímpia o salvará? As Escrituras nos asseguram que 'não há outro nome dado aos homens debaixo do céu, pelo qual possamos ser salvos', senão o nome de Jesus apenas, e 'quem não crer no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele'. Todas as várias seitas que se separaram da verdadeira Igreja, em todas as épocas, sempre caluniaram e difamaram a Igreja, falando mal da verdade por ela professada, crendo em suas consciências que isso não só era lícito, mas altamente meritório.
As calúnias e difamações contra a Igreja de Jesus Cristo as salvarão, porque suas consciências as aprovaram? A Palavra de Deus declara: 'A nação e o reino que não a servirem perecerão' (Is 60,12) e 'assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas. Eles, renegando assim o Senhor que os resgatou, atrairão sobre si uma ruína repentina' (2Pd 2,1). Em todos esses casos, e em casos semelhantes, a consciência é o maior crime, e mostra até que ponto a consciência e a razão podem nos levar, quando sob a influência do orgulho, paixão, preconceito e amor-próprio. Portanto, a consciência e a razão nunca podem ser guias seguros para a salvação, a menos que sejam dirigidas pela luz sagrada da verdade revelada.
(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)