quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (IV)

P.7 - E no caso de uma pessoa completamente ignorante da fé [a chamada ignorância invencível] em Jesus Cristo e da sua Igreja, isso [a consciência e a razão] não a poderia salvar?

Esta também é uma proposição muito atraente e temo que, por não ser devidamente considerada, ela seja ocasião de um erro perigoso para muitos; portanto, vamos tentar examiná-la de forma completa. E aqui devemos observar que duas questões diferentes são comumente misturadas quando as pessoas falam sobre a chamada ignorância invencível: (I) uma pessoa que é invencivelmente ignorante da verdadeira fé ou Igreja de Cristo será condenada precisamente por essa ignorância? Ou seja, essa ignorância será imputada a ela como um crime? Ou essa ignorância invencível a desculpará da culpa de não crer? A isso respondo que, como nenhum homem pode ser culpado por um pecado ao não fazer o que está absolutamente fora de seu poder, portanto, uma pessoa que é invencivelmente ignorante da verdadeira fé e Igreja de Cristo não será condenada por essa ignorância; tal ignorância não será imputada a ela como um crime, mas sem dúvida a desculpará da culpa da descrença: nisso todos os teólogos concordam sem dúvida ou hesitação. 

Um pagão, por exemplo, que nunca ouviu falar de Jesus Cristo, não será condenado como criminoso precisamente pela falta de fé nEle; um herege que nunca teve nenhum conhecimento da verdadeira Igreja de Cristo não será condenado como culpado por não estar em comunhão com essa Igreja. Até aqui, a primeira questão não admite disputa. 

A segunda questão é: (II) pode uma pessoa invencivelmente ignorante da verdadeira fé ou Igreja de Jesus, vivendo e morrendo nesse estado, ser salva? Esta é uma questão muito importante, mas bem diferente da anterior, embora frequentemente confundida com ela. Agora, para responder a essa questão de forma clara e distinta, devemos considerar dois casos diferentes: primeiro, o dos muçulmanos, judeus e pagãos que, nunca tendo ouvido falar de Jesus Cristo ou da sua religião, são invencivelmente ignorantes dela; e, em segundo lugar, o dos diferentes grupos de cristãos que estão separados da verdadeira Igreja de Cristo por heresia.

P.8 -  O que se deve então dizer de todos aqueles muçulmanos, judeus e pagãos que, nunca tendo ouvido falar de Jesus Cristo ou da sua religião são, portanto, invencivelmente ignorantes em relação a ambos? Podem ser salvos, se viverem e morrerem nesse estado?

A resposta direta a isso é que eles não podem ser salvos; que nenhum deles 'pode entrar no reino de Deus'. É verdade, como vimos acima, que não serão condenados precisamente por não terem a fé em Cristo, da qual são invencivelmente ignorantes. Mas a fé em Cristo, embora seja uma condição essencial para a salvação, é apenas uma condição; outras também são necessárias. E, embora a ignorância invencível certamente livre um homem do pecado, por não saber aquilo do que é invencivelmente ignorante, é impossível supor que essa ignorância invencível sobre um ponto substitua a falta de todas as outras condições exigidas. Agora, todos aqueles de quem falamos aqui estão no estado do pecado original - 'estranhos a Deus e filhos da ira' -  por não serem batizados; e é um artigo da fé cristã que, a menos que o pecado original seja apagado pela graça do batismo, não há salvação; pois o próprio Cristo declara expressamente: 'Em verdade, em verdade, vos digo, se alguém não nascer da água e do Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus' (Jo 3,5).

E, de fato, se até mesmo os filhos de pais cristãos, que morrem sem o batismo, não podem ir para o céu, quanto menos aqueles que, além de não serem batizados, vivem e morrem na ignorância do verdadeiro Deus, de Jesus Cristo e de sua fé, e, por essa razão, podem ser considerados como tendo cometido muitos pecados atuais. Além disso, imaginar que pagãos, muçulmanos ou judeus que vivem e morrem nesse estado podem ser salvos é supor que a ignorância salvará adoradores de ídolos, de Maomé e blasfemadores de Jesus Cristo, tanto no pecado atual quanto no original; o que seria colocá-los em uma posição melhor do que os próprios cristãos e dos seus filhos. O destino de todos esses é decidido pelas Escrituras da seguinte forma: 'O Senhor Jesus será revelado do céu, com o anjo do seu poder, em uma chama de fogo, infligindo vingança àqueles que não conhecem a Deus e que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais sofrerão punição eterna na destruição, longe da face do Senhor e da glória do seu poder' (2Ts 1,7-8). Isso é, de fato, uma resposta clara e decisiva à questão apresentada.

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

PROTOCOLOS DO INFERNO CONTRA DEUS

Assim que Lúcifer foi autorizado a prosseguir com essas questões e se erguer da consternação em que ficou por algum tempo, ele começou a propor aos seus companheiros demônios novos planos de sua arrogância. Para isso, convocou todos e, colocando-se em uma posição elevada, falou-lhes: 'A vós, que por tantas eras seguis e ainda seguis meus estandartes em vingança das minhas injúrias, é conhecido o dano que sofri agora nas mãos deste Homem-Deus, e como, por trinta e três anos, Ele me guiou em engano, escondendo sua Divindade e ocultando as operações de sua alma, e como agora Ele triunfou sobre nós pela própria Morte que nós lhe trouxemos. Antes de assumir a carne, Eu o odiava e me recusava a reconhecê-lo como mais digno do que eu de ser adorado por toda a criação. Embora, por causa dessa resistência, tenha sido expulso do céu com vocês e degradado a esta condição abominável, tão indigna da minha grandeza e beleza anteriores, sou ainda mais atormentado ao me ver assim vencido e oprimido por este Homem e por sua Mãe. Desde o dia em que o primeiro homem foi criado, procurei sem descanso encontrá-los e destruí-los; ou, se não pudesse destruí-los, ao menos queria trazer destruição sobre todas as suas criaturas e induzi-las a não reconhecê-lo como seu Deus, e que nenhum delas jamais tirasse qualquer benefício de suas obras.

Este foi o meu intento, para isso toda a minha solicitude e esforços foram dirigidos. Mas em vão, pois Ele me venceu pela sua humildade e pobreza, me esmagou pela sua paciência, e, por fim, me despojou da soberania do mundo pela sua Paixão e morte terrível. Isso me causa uma dor tão excruciante que, mesmo que eu conseguisse lançar-lhe fora da destra do seu Pai, onde Ele se assenta triunfante, e se eu conseguisse arrastar todas as almas redimidas para este inferno, minha ira não seria saciada nem minha fúria apaziguada.

É possível que a natureza humana, tão inferior à minha, seja exaltada acima de todas as criaturas! Que seja tão amada e favorecida, a ponto de se unir ao Criador na pessoa do Verbo eterno! Que Ele devesse primeiro fazer guerra contra mim antes de executar essa obra, e depois me sobrecarregar com tal confusão! Desde o princípio, vi essa humanidade como meu maior inimigo; sempre me preencheu com uma aversão intolerável. Ó homens, tão favorecidos e dotados pelo vosso Deus, que eu abomino, e tão ardentemente amados por Ele! Como hei de impedir vossa boa sorte? Como hei de trazer sobre vós a minha infelicidade, já que não posso destruir a existência que recebestes? O que devemos agora começar, ó meus seguidores? Como restauraremos o nosso reinado? Como recuperaremos o nosso poder sobre os homens? Como os venceremos? Pois se os homens, a partir de agora, não forem os mais insensatos e ingratos, se não estiverem mais dispostos do que nós mesmos contra este Deus-homem, que os redimiu com tanto amor, é claro que todos eles o seguirão com zelo; nenhum notará os nossos enganos; eles abominarão as honras que insidiosamente lhes oferecemos e amarão o desprezo; buscarão a mortificação da carne e descobrirão o perigo do prazer e do descanso carnais; desprezarão as riquezas e os tesouros, e amarão a pobreza tão honrada por seu Mestre; e tudo o que pudermos oferecer aos seus apetites será abominado, imitando seu verdadeiro Redentor. Assim será destruído o nosso reinado, pois ninguém se somará ao nosso número neste lugar de confusão e tormentos; todos alcançarão a felicidade que perdemos, todos se humilharão até o pó e sofrerão com paciência; e minha ira e altivez não me servirão de nada.

Ah, ai de mim, que tormento causa esse erro em mim! Quando o tentei no deserto, o único resultado foi dar-lhe uma oportunidade de deixar o exemplo dessa vitória, por meio do qual os homens podem vencer com muito mais facilidade. As minhas perseguições apenas evidenciaram mais claramente a sua doutrina de humildade e paciência. Ao persuadir Judas a traí-lo, e aos judeus a sujeitá-lo à morte cruel da Cruz, apressei apenas a minha ruína e a salvação dos homens, enquanto a doutrina que eu procurava apagar foi apenas mais firmemente implantada. Como poderia Aquele que é Deus humilhar-se a tal ponto? Como poderia Ele suportar tanto dos homens, que são maus? Como poderia eu mesmo ter sido levado a ajudar tanto para tornar essa salvação tão copiosa e maravilhosa? Ó quão divina é a força daquele Homem, que poderia me atormentar e enfraquecer-me assim! E pode essa Mulher, sua Mãe e minha Inimiga, ser tão poderosa e invencível em sua oposição a mim? Tal poder é novo em uma mera criatura, e sem dúvida Ela o derivou do Verbo divino, a quem Ela revestiu com a carne humana. Através desta Mulher, o Todo-Poderoso tem guerreado incessantemente contra mim, embora Eu a tenha odiado em meu orgulho desde o momento em que a reconheci em sua imagem ou sinal celestial.

Mas se a minha indignação orgulhosa não deve ser acalmada, nada me aproveita a minha guerra perpétua contra esse Redentor, contra a sua Mãe e contra os homens. Agora então, demônios que me seguis, agora é o momento de ceder à nossa ira contra Deus. Venham todos para tomar conselho sobre o que devemos fazer; pois desejo ouvir as vossas opiniões'.

Alguns dos principais demônios deram suas respostas a essa proposta terrível, incentivando Lúcifer a sugerir diversos esquemas para impedir os frutos da Redenção entre os homens. Todos concordaram que não seria possível prejudicar a pessoa de Cristo, diminuir o valor imenso dos seus méritos, destruir a eficácia dos Sacramentos ou falsificar ou abolir a doutrina que Cristo havia pregado; ainda assim, resolveram que, de acordo com a nova ordem de assistência e favor estabelecida por Deus para a salvação dos homens, agora deveriam buscar novas maneiras de dificultar e impedir a obra de Deus por enganos e tentações muito maiores.

Referente a esses planos, alguns dos demônios astutos e maliciosos disseram: 'É verdade que agora os homens têm à sua disposição uma nova e poderosa doutrina e lei, novos e eficazes Sacramentos, um novo Modelo e Instrutor de virtudes, um poderoso Intercessor e Advogada nesta Mulher; ainda assim, as inclinações e paixões naturais da carne permanecem as mesmas, e as criaturas sensíveis e deleitosas não mudaram sua natureza. Vamos então, aproveitando-nos dessa situação com astúcia aumentada, frustrar tanto quanto pudermos os efeitos do que esse Deus-homem fez pelos homens. Comecemos uma guerra enérgica contra a humanidade, sugerindo novas atrações, excitando-os a seguir suas paixões, esquecendo tudo o mais. Assim, os homens, envolvidos com essas coisas perigosas, não poderão atentar para o contrário'.

Agindo segundo esse conselho, redistribuíram as esferas de trabalho entre si, de forma que cada esquadrão de demônios pudesse, com astúcia especializada, tentar os homens a diferentes vícios. Resolveram continuar propagando a idolatria no mundo, para que os homens não chegassem ao conhecimento do verdadeiro Deus e da Redenção. Onde a idolatria falhasse, concluíram, estabeleceriam seitas e heresias, para as quais escolheriam os mais perversos e depravados da raça humana como líderes e mestres do erro.

Foi então que, entre esses espíritos malignos, foi tramada a seita de Maomé, as heresias de Ário, Pelágio, Nestório, e quaisquer outras heresias que surgiram no mundo desde os primeiros tempos da Igreja até agora, junto com aquelas que têm em prontidão, mas que não é necessário nem apropriado mencionar aqui. Lúcifer se mostrou satisfeito com esses conselhos infernais, por se oporem à verdade divina e destruírem os próprios alicerces da salvação do homem, a saber, a fé divina. Ele lavrou elogios lisonjeiros e cargos elevados àqueles demônios que se mostraram dispostos e que se encarregaram de encontrar os ímpios originadores desses erros.

Alguns dos demônios se encarregaram de perverter as inclinações das crianças desde sua concepção e nascimento; outros de induzir os pais a negligenciarem a educação e instrução de seus filhos, seja por amor desordenado ou aversão, e a causar o ódio entre pais e filhos. Outros ofereceram-se para criar ódio entre maridos e esposas, para colocá-los no caminho do adultério, ou para fazer pouco da fidelidade prometida aos seus parceiros conjugais. Todos concordaram em semear entre os homens as sementes de discórdia, ódio e vingança, pensamentos orgulhosos e sensuais, desejo de riquezas ou honrarias, e sugerir razões sofísticas contra todas as virtudes que Cristo ensinou; acima de tudo, pretendiam enfraquecer a lembrança da sua Paixão e Morte, dos meios de salvação e das penas eternas do inferno. Por esses meios, os demônios esperavam sobrecarregar todos os poderes e faculdades dos homens com solicitude por assuntos terrenos e prazeres sensuais, deixando-lhes pouco tempo para pensamentos espirituais e para a própria salvação.

(Excertos da obra ‘A Cidade Mística de Deus’, da Venerável Maria de Ágreda)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOGRAFIA CRISTÃ (II)

João Batista é o Precursor de Cristo e, por isso, na iconografia cristã, é comumente representado com asas, simbolizando a condição ímpar de João Batista como um arauto divino. Tal representação é absolutamente ímpar porque João é o grande Precursor do Redentor e, com a sua prisão e morte, tem fim a Era dos Profetas. 'Profeta do Altíssimo', João supera todos os profetas, dos quais é o últimoE sobre ele, foram manifestadas as palavras de glória eterna pelo próprio Cristo: 'entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João' (Mt 11,11).

Nas inscrições dos ícones, João é descrito como sendo o 'Anjo do Deserto', por duas razões: primeiro, pela condição de mensageiro da chegada iminente de Jesus Cristo, nosso Salvador; segundo, pela vida austera de castidade, abstinência e oração no deserto, no encontro com Deus e no afastamento completo e desapego às coisas mundanas (João Batista é o padroeiro dos monges, eremitas e ascetas). Por ambas as razões, o seu ícone incorpora as duplas asas de uma pomba. Os cabelos longos, a barba espessa mal cuidada e as vestes rudes remetem à vida de austeridade no deserto. No ícone, João prenuncia Cristo, indicando o seu nascimento com a mão direita e segurando um pergaminho na mão esquerda, que contém o texto bíblico referente a essa anunciação.

João Batista é mártir pela fé e pelo sangue. No primeiro caso, como testemunha e guerreiro da fé (ícones desta natureza são representados por uma vestimenta de cor verde, sendo identificados como 'mártires verdes') e, no segundo caso, pelo derramamento de sangue (João Batista foi decapitado por ordem de Herodes). Símbolos deste martírio estão também comumente presentes em ícones do santo como a túnica verde, a cruz e a bandeja contendo a cabeça de João Batista (Mt 14,11).

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O QUE LEVO DE HOJE PARA A ETERNIDADE?

Na balança das graças recebidas e compartilhadas, o que se leva desta vida é a vida que se leva: para você se lembrar agora, neste momento, do que realmente pesaria de bom no dia de hoje para a sua eternidade com Deus. Uma oração? A fé convertida em obras? Um sacramento ou uma penitência? Uma leitura espiritual? Um momento de recolhimento com Deus? A aceitação de bom grado de uma angústia ou sofrimento? Um silêncio contemplativo ou um murmúrio de agradecimento à Bondade Divina? Uma súplica de perdão ou uma vitória contra as tentações? Uma prática da caridade? 

Ó Misericórdia Infinita de Deus, naquele dia tremendo em que deverei prestar contas a Vós dos frutos, dons e graças que recebi durante uma vida inteira, o que poderei vos oferecer deste dia de hoje? Quais virtudes, frutos ou graças perpassaram, no dia de hoje, pelas minhas mãos, pela minha mente, pelo meu coração? Quaisquer ou quantos possam ter sido, não são nossos: a única coisa que é nossa é a determinação da nossa vontade de oferecê-los ao Senhor de todos eles e agradecer por termos sido instrumentos da graça do Pai neste dia que passa (e que você pode, mais do que nunca, colher frutos de vida eterna). Não importa o tamanho da listagem ou o que se memorizou, importa a oferta de coração! E, para ganhar tudo, ofereça tudo! Que tudo nesse dia - tudo mesmo! - seja o nosso nada convertido em oração! 

em geral, os tipos e as cores identificam a natureza dos diferentes dons ou virtudes cristãs; p.ex, FORTALEZA é uma virtude cardeal (em roxo) e também um dos sete dons do Espírito Santo (em vermelho)

domingo, 26 de janeiro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!' (Sl 18B)

Primeira Leitura (Ne 8,2-6.8-10) - Segunda Leitura (1Cor 12,12-30) -  Evangelho (Lc 1,1-4;4;14-21)

  26/01/2025 - TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM 

O UNGIDO DO PAI


O Evangelho de São Lucas traduz, em larga escala, a personalidade ímpar do autor, de alguém que, embora possa não ter sido testemunha ocular dos acontecimentos narrados: 'como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra' (Lc 1, 2), elaborou uma obra regida particularmente pelo rigor da informação e por uma ordenação lógica dos eventos associados à vida pública de Jesus: 'após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado' (Lc 1, 3), o que a torna fruto do trabalho de um eminente escritor e historiador: 'Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste' (Lc 1, 4).

Desta forma, a par a semelhança e a mesma contextualização geral com os demais evangelhos sinóticos (São Mateus e São Marcos), o evangelho de São Lucas é pautado por uma visão própria, objetiva e cronológica da doutrina e dos ensinamentos públicos de Jesus (tempo presente da narrativa), inserida num contexto histórico do passado (Antigo Testamento) e do futuro (tempo da Igreja), incorporando, assim, um caráter muitíssimo pessoal e, portanto, original, à transcrição das mensagens evangélicas.

Após um preâmbulo típico do rigor objetivo do historiador, São Lucas desvela o instrumento de evangelização adotado por Jesus - a pregação pública e sua estrita observância, neste sentido, aos preceitos da Lei - a leitura, aos sábados, da palavra sagrada nas sinagogas. No seu primeiro retorno à Nazaré, foi convidado a ler e a comentar uma passagem do Livro de Isaías: 'Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor' (Lc 1, 17 - 19).

Ao recolher o rolo de pergaminho e se sentar, ao final da leitura 'todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele' (Lc 1, 20), porque, de certa forma, compreendiam a grandiosidade deste momento, que se materializou, então, com a manifestação direta e sucinta de Jesus: 'Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir' (Lc 1, 21), anunciando aos homens ser Ele o Ungido pelo Espírito Santo para fazer novas todas as coisas, para abrir os tempos do Messias esperado por todo Israel e para testemunhar aos homens a presença viva do Reino de Deus sobre a terra.

sábado, 25 de janeiro de 2025

FRASES DE SENDARIUM (XLV)


'A caridade é a alma da fé' 

(Santo Antônio de Pádua)

A caridade é a mãe de todas as virtudes, assim como a soberba é a raiz de todos os pecados. Sê humilde e pratica a caridade em tudo e com todos os teus irmãos, em todas as situações. Espelha-te no bom samaritano em todos os caminhos de tua vida!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

VERSUS: RISOS X LÁGRIMAS


'Contra todas as maquinações e ardis do inimigo, a minha melhor defesa continua a ser o espírito da alegria. O diabo nunca fica tão contente como quando consegue arrebatar a alegria à alma de um servo de Deus. Ele tem sempre uma reserva de poeira que sopra na consciência através de qualquer orifício, para tornar opaco o que é límpido; mas em vão tenta introduzir o seu veneno mortal num coração repleto de alegria. Os demônios não podem nada contra um servo de Cristo que encontram repleto de santa alegria; enquanto uma alma desgostosa, melancólica e deprimida se deixa facilmente submergir pela tristeza ou absorver por prazeres enganosos'.

(São Francisco de Assis)



'Nem todas as lágrimas são um sinal de falta de fé ou de fraqueza. Uma coisa é a dor natural, outra a tristeza que resulta da descrença. A dor não é a única a manifestar-se com lágrimas; também a alegria tem as suas lágrimas, também o afeto suscita lágrimas, a palavra rega o solo com lágrimas, e a oração, segundo as palavras do profeta, banha de lágrimas o nosso leito (Sl 6,7). Quando os patriarcas eram sepultados, o seu povo também chorava muito. As lágrimas são, pois, um sinal de afeto e não incitações à dor. Chorei, confesso-o, mas também o Senhor chorou (Jo 11,35); Ele chorou por uma pessoa que não era da sua família, enquanto eu choro um irmão. Ele, num só homem, chorou todos os homens; e eu chorar-te-ei, meu irmão, em todos os homens'.

(Santo Ambrósio, em memória da morte do seu irmão)