Esta é a história de uma santificação que não teve sete anos de história. Uma história que, sendo universal, seria apenas uma pequena história feita e construída de arroubos infantis e travessuras de crianças. Mas essa definitivamente não é a história de Antonieta Meo. Antonieta, quarta filha de Maria e Miguel Meo, nasceu em Roma em dia 15 de dezembro de 1930 e foi batizada no dia 28 do mesmo mês, na feasta dos Santos Inocentes.
Criança alegre e social, Nennolina - como era carinhosamente chamada pela família - vivia uma infância absolutamente comum e, quando ainda não tinha três anos, já frequentava as aulas e catequese espiritual do Colégio das Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, situado ao lado de sua casa. Pouco mais de um ano depois, a tranquilidade da família Meo foi brutalmente afetada quando a menina foi diagnosticada com um osteossarcoma a partir de exames médicos do que parecia, a prinícipio, não passar de um simples inchaço do joelho esquerdo.
Os desdobramentos da doença foram rápidos e sem paliativos. Os tratamentos por injeções de cálcio e outras medidas terapéuticas eram particularmente dolorosas. Sob os cuidados extremados da mãe, foi instada a compartilhar os seus sofrimentos aos de Jesus no Calvário, o que acatou de pronto e com singular alegria. Neste propósito, com firme e perseverante determinação, oferecia todas os seus sofrimentos em favor da Igreja, do papa, pela paz no mundo, pela salvação dos pecadores, pelos missionários e pelas crianças da África. Nada a separou dessa via dolorosa de santificação, nem mesmo quando teve a sua perna esquerda amputada em abril de 1936.
Diante da gravidade da doença, os pais de Antonieta decidiram antecipar a sua Primeira Comunhão e, para lhe dar a preparação necessária, a própria mãe se encarregou de lhe oferecer aulas de catecismo em ritmo acelerado. Mais que isso, sugeriu à filha escrever uma carta à superiora do convento onde estudava, pedindo para fazer a Primeira Comunhão no Natal daquele ano. Uma vez escrita esta primeira carta, uma sucessão interminável de outras foram escritas pela menina - um registro extraordinário de sua pequena via de santificação - encaminhadas aos Céus e endereçadas a Deus Pai, a Jesus, ao Espírito Santo, à Nossa Senhora e até mesmo a santas da Igreja, como Santa Inês e a Santa Teresinha do Menino Jesus.
Tratam-se de cartas ditadas à mãe, com os termos, gramática e recursos de uma criança que não sabia ainda escrever. Mais tarde, ela mesmo escreveu algumas com os erros próprios da sua escrita e as assinava simplesmente como 'Antonieta e Jesus'. Alguns desses registros são apresentados a seguir [com correções, mas tentando manter a ternura original de Nennolina] e, ainda que sejam poucos, nos dão uma portentosa ideia da beleza dessa alma, entregue por completo ao amos pelo Crucificado e imbuída de repentes teológicos surpreendentes, como as petições constantes em favor da Igreja e da salvação das almas.
'Querido Jesus, sofreste tanto na flagelação com paciência; quero aprender que, se me derem uma bofetada ou me insultarem, não tenho que retribuir, mas tenho que aceitar bem isso por teu amor' .
'Querido Jesus, ofereço-te todos os meus sacrifícios em reparação pelos pecados que os pecadores cometem: mas tu ajudas-me porque sem a tua ajuda nada posso fazer... Querido Jesus, sei que sofreste tanto na cruz e, nesta semana da Paixão, quero sofrer contigo, quero sofrer pelas almas que precisam, para que se convertam'.
'Querida Senhora Imaculada, diga a Jesus que eu o amo muito. Querida Senhora, amanhã ajude-me a fazer uma boa confissão e que todos os meus pecados venham à mente e ajude-me a não cometê-los novamente e quero corrigir todos os meus defeitos para me tornar melhor e agradar a Jesus e a você, querida Senhora. Querida Senhora, amo-te muito e diz ao Espírito Santo que me ilumine e me abençoe... Querido Jesus Eucaristia, amo-te muito e estou muito feliz porque amanhã de manhã irei recebê-lo na Sagrada Comunhão. Querido Jesus, amanhã quando você estiver em meu coração, imagine que minha alma é uma maçã e, assim como as sementes estão dentro da maçã, dentro da minha alma há um armário, e assim como a semente está sob a casca das sementes brancas , então certifique-se de que dentro do armário esteja a sua graça, que seria como a semente branca e certifique-se de deixar sempre essa graça comigo'.
'Querido menino Jesus: tu és santo! Você é bom: me ajude! Dá-me esta graça: devolve-me a perna! ... Me devolva minha perninha, se quiser! Se não quiser, faça a sua vontade ... Querido Jesus, dá-me a força necessária para suportar as dores que te ofereço pelos pecadores... Querido Jesus, quero abandonar-me nas tuas mãos: faze de mim o que Tu queres!'.
'Querido Jesus, amo-te muito e quero estar sempre perto de ti. Querido Jesus, quero ser a tua lâmpada que arde perto de ti com uma chama de amor, e o teu lírio que sempre fica para enfeitar o altar e te adora... Querido Jesus, eu te amo muito, muito mesmo, ó Jesus, e quero ser a tua lâmpada e o teu lírio: o lírio que representa a pureza da alma e a lâmpada que representa a chama do amor que nunca te deixa sozinho'.
'Querido Jesus, sei que te ofendem muito. Quero reparar todas essas ofensas! Querido Jesus, se você fosse um homem como nós e se trancasse dentro de uma casa, não sentiria os insultos que lhe são feitos! Isto é o que você poderia fazer: entre no meu coração e fique fechado comigo e farei muitos sacrifícios por você e lhe direi algumas palavrinhas para consolá-lo! … Querido Deus Pai, diga a Jesus que farei um lugar agradável para ele em meu coração, para que ele possa dormir bem e descansar em meu coração!… Amado Jesus, não abandone mais o meu coração! Fique sempre comigo!
'Jesus, gostaria destas três graças: a primeira, tornar-me santa e isso é o mais importante; o segundo, dê-me almas; o terceiro, deixe-me andar bem, mas isso realmente não é muito importante'.
'Querido Jesus Crucificado, amo-te tanto e amo-te tanto que quero estar contigo no Calvário e sofro de alegria porque sei que estou no Calvário. Querido Jesus, agradeço-te por me teres enviado esta doença porque é um meio de chegar ao Céu'.
Antonieta recebeu a Primeira Comunhão no Natal de 1936, mesmo com dores e as dificuldades do aparelho ortopédico E, em maio de 1937, recebeu o Sacramento da Crisma. Em meados de junho, a doença evoluiu rapidamente pelo corpo da menina, causando-lhe espasmos e asfixia e, mesmo assim, ainda ditava as suas cartinhas. Em 3 de julho de 1937, aos seis anos e meio de idade, Antonieta Meo recebeu a sua coroa de glória no Céu. Nennolina foi reconhecida como venerável em dezembro de 2007 pelo Papa Bento XVI, que a apresentou como modelo de inspiração para as crianças do mundo inteiro.