sexta-feira, 13 de junho de 2025

QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XVII)

P. 37 - De que maneira, então, esses santos se expressam sobre esse assunto?

Seria interminável coletar todos os seus testemunhos; os poucos que se seguem podem ser suficientes como amostra do todo. Santo Inácio, bispo de Antioquia e discípulo dos apóstolos, em sua epístola aos filadelfianos, diz: 'Aqueles que se separam não herdarão o reino de Deus'. São Irineu, bispo de Lyon e mártir na segunda era, diz: 'A Igreja é a porta da vida, mas todos os outros são ladrões e salteadores e, portanto, devem ser evitados' (DeHar., lib. i. c. 3). São Cipriano, bispo de Cartago e mártir em meados da terceira era, diz: 'A casa de Deus é uma só, e ninguém pode ter a salvação senão na Igreja' (Epist. 62, 4). E no seu livro sobre a unidade da Igreja, ele diz: 'Não pode ter Deus como pai quem não tem a Igreja como mãe. Se alguém que estivesse fora da arca de Noé pudesse escapar, então aquele que está fora da Igreja também poderia escapar'.

No século IV, São Crisóstomo diz assim: 'Sabemos que a salvação pertence SOMENTE à Igreja e que ninguém pode participar de Cristo, nem ser salvo, fora da Igreja Católica e da fé católica' (Hom. i. in Pasch). Santo Agostinho, na mesma época, diz: 'Somente a Igreja Católica é o corpo de Cristo; o Espírito Santo não dá vida a ninguém que esteja fora deste corpo' (Epist. 185, 50). E em outro lugar: 'Ninguém pode ter a salvação, a não ser na Igreja Católica. Fora da Igreja Católica, pode ter tudo menos a salvação. Pode ter honra, pode ter o batismo, pode ter o Evangelho, pode acreditar e pregar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; mas não pode encontrar a salvação em nenhum outro lugar que não seja a Igreja Católica' (Serm. ad Cczsariens de Emerit). E ainda uma outra vez (Epist. 209, ad Feliciam).: 'Na Igreja Católica, há bons e maus. Mas aqueles que estão separados dela, enquanto as suas opiniões forem opostas às dela, não podem ser bons. Pois, embora a conversa de alguns deles pareça louvável, a sua própria separação da Igreja torna-os maus, de acordo com o que diz o nosso Salvador: 'Aquele que não está comigo está contra mim; e aquele que não ajunta comigo, espalha' (Lc 11,23).

Lactâncio, outra grande luz da quarta era, diz: 'É somente a Igreja Católica que mantém a verdadeira adoração. Esta Igreja é a fonte da verdade, é a casa da fé, é o templo de Deus. Se alguém não entrar nesta Igreja ou se afastar dela, a sua salvação eterna estará perdida. Ninguém deve iludir-se obstinadamente, pois a sua alma e a sua salvação estão em jogo' (Divin. Instit., lib. iv. c. 30). São Fulgêncio, no século VI, diz assim: 'Acredite firmemente, e sem qualquer dúvida, que ninguém que seja batizado fora da Igreja Católica pode participar da vida eterna, se, antes do fim desta vida, não for restaurado à Igreja Católica e incorporado nela' (Lib. de Fid., c. 37). Isto é suficiente para mostrar a fé do mundo cristão em todas as épocas anteriores; pois todos os escritores sagrados do cristianismo, em todas as épocas, falam sobre este assunto da mesma forma.

P. 38. Esses testemunhos são fortes e falam claramente sobre o assunto; mas, depois de tais provas, não é surpreendente que alguém questione esse ponto?

Isso, na verdade, só pode ser explicado pelo espírito geral de mundanismo e desconsideração por toda religião que agora prevalece universalmente; pois os primeiros reformadores e alguns de seus seguidores, vendo as fortes provas da Escritura para essa doutrina e não encontrando o menor fundamento nesses escritos sagrados para apoiar o contrário, reconheceram-na de forma justa, por mais que isso fosse contra eles mesmos. Vimos como os teólogos de Westminster se pronunciam sobre este assunto na Confissão de Fé, usada até hoje pela Igreja da Escócia, e que foi ratificada e adotada pela Assembleia Geral no ano de 1647, como padrão da sua religião. 

Mas os seus antecessores no século anterior, quando a religião presbiteriana começou na Escócia, falam com igual clareza sobre o mesmo assunto; pois na sua Confissão de Fé, autorizada pelo Parlamento no ano de 1560, 'como uma doutrina fundamentada na Palavra infalível de Deus', eles dizem o seguinte, no Artigo xvi: 'Assim como acreditamos em um único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, também acreditamos firmemente que, desde o início, existiu, existe agora e existirá até o fim do mundo uma única Igreja, ou seja, uma única comunidade e multidão de homens, escolhidos por Deus, que o adoram e abraçam corretamente pela verdadeira fé em Jesus Cristo... Essa Igreja é católica, isto é, universal, porque contém os eleitos de todas as épocas e, fora dessa Igreja não há vida nem felicidade eterna; e, portanto, abominamos totalmente a blasfêmia daqueles que afirmam que os homens que vivem de acordo com a equidade e a justiça serão salvos, qualquer que seja a religião que professem'. Esta confissão da Igreja original da Escócia foi reimpressa e publicada em Glasgow no ano de 1771, de onde esta passagem foi retirada. O próprio Calvino confessa a mesma verdade, nestas palavras, falando da Igreja visível: 'Fora do seu seio' - diz ele - 'não se pode esperar remissão dos pecados, nem salvação, de acordo com Isaías, Joel e Ezequiel... de modo que é sempre altamente pernicioso afastar-se da Igreja' e isto ele afirma nas suas próprias instituições (B. iv. c. i 4).

Acrescentaremos mais um testemunho particularmente forte; é do Dr. Pearson, bispo da Igreja da Inglaterra, na sua exposição do Credo (edit. 1669), onde ele diz: 'A necessidade de acreditar na Igreja Católica apareceu, em primeiro lugar, no fato de Cristo a ter designado como o único caminho para a vida eterna. Lemos no início do Livro dos Atos (At 2,47), que o Senhor acrescentava diariamente à Igreja aqueles que deveriam ser salvos; e o que era feito diariamente naquela época tem sido feito continuamente desde então. Cristo nunca designou dois caminhos para o céu; nem construiu uma Igreja para salvar alguns e criou outra instituição para a salvação de outros homens (At 4,12). Não há outro nome dado aos homens sob o céu pelo qual devamos ser salvos, senão o nome de Jesus; e esse nome não é dado sob o céu senão na Igreja. 

Assim como ninguém foi salvo do dilúvio, exceto aqueles que estavam dentro da arca de Noé, construída para recebê-los por ordem de Deus; assim como nenhum dos primogênitos do Egito sobreviveu, exceto aqueles que estavam dentro das habitações cujas ombreiras das portas foram aspergidas com sangue, por designação de Deus, para sua preservação; assim como nenhum dos habitantes de Jericó pôde escapar do fogo ou da espada, exceto aqueles que estavam dentro da casa de Raab, para cuja proteção foi feita uma aliança; assim NINGUÉM escapará da ira eterna de Deus uma vez que não pertença à Igreja de Deus. 

Vede até que ponto a força da verdade prevaleceu entre os membros mais eminentes da Reforma antes que os princípios liberais se infiltrassem entre eles! Que reprovação deve ser esta perante o tribunal de Deus para aqueles membros da Igreja de Cristo que questionam ou procuram invalidar esta grande e fundamental verdade, a própria fronteira e barreira da verdadeira religião: que é tão repetidamente declarada por Deus nas suas Sagradas Escrituras, professada pela Igreja de Cristo em todas as épocas, atestada nos termos mais fortes pelas luzes mais eminentes do cristianismo e reconhecida com franqueza pelos escritores e teólogos mais célebres da Reforma! Não será que toda tentativa de enfraquecer a importância desta verdade divina será considerada pelo grande Deus como uma traição à sua causa e aos interesses da sua santa fé? E aqueles que assim o fizerem serão capazes de invocar a sua predileta e invencível ignorância em sua própria defesa perante Ele?

(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)

OS PAPAS DA IGREJA (XV)

 


quinta-feira, 12 de junho de 2025

ORAÇÃO PARA ANTES DE UMA CIRURGIA


Senhor, eu busco alívio e conforto nesta cirurgia que estou prestes a fazer, para cura do corpo e maior bem da minha saúde. Tornai, ó meu Jesus, esta experiência pessoal num ato de graça e misericórdia de Deus para comigo, para os médicos responsáveis e por todos os profissionais de saúde envolvidos, como uma celebração conjunta do vosso infinito amor pelos homens. Dai-me a paz interior, serenidade de espírito e confiança absoluta para entregar, em vossas santas mãos, hoje, durante a cirurgia e sempre, tudo o que tenho e tudo que sou. Amém.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (16/18)

 

16. O SENHOR PODE PERDOAR-ME OS PECADOS?

Um conhecido comerciante luterano de uma cidade do Norte adoeceu gravemente. Mandou chamar o pastor protestante e disse-lhe:
➖ Senhor pastor, o senhor pode perdoar-me os pecados?
➖ Não se perturbe, senhor, fique tranquilo: Deus já lhe perdoou tudo.
➖ Não pergunto se Deus já me perdoou; pergunto se o senhor pastor tem o poder de perdoar os meus pecados.
➖ Ah! isso eu não tenho, respondeu o pastor.
➖Sinto muito, senhor pastor. Sempre fui um protestante crente e li com confiança a Bíblia. No Evangelho de São João li que Nosso Senhor disse aos Apóstolos: 'Recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados, serão perdoados, e a quem os retiverdes, estes lhe serão retidos'. Ora, se o senhor pastor não pode perdoar os meus pecados, é claro que não estamos na verdadeira Igreja de Cristo. Dito isto, despediu o pastor. 

Logo depois mandou chamar um sacerdote católico, o qual, ao entrar no quarto, foi recebido com estas palavras:
➖ Senhor Padre, o senhor pode perdoar os meus pecados?
➖ Posso, sem dúvida; mas o senhor é protestante!...
➖ E se eu me fizer católico, poderia?
➖ Sem dúvida alguma.
➖ Peço-lhe então que me receba na Igreja Católica: quero morrer na Igreja de Cristo e com o perdão dos meus pecados.

Foi instruído então nas verdades católicas, fez a abjuração diante de toda a família e a profissão solene de fé católica. Em seguida recebeu os últimos sacramentos da Igreja e morreu feliz (Muzzatti II, 214).

17. UM DEVOTO POUCO DEVOTO

Em Veneza, cidade da Itália, um senhor distinto costumava rezar todos os dias diante de uma imagem de São José, que conservava em seu quarto. Entretanto, muito pouco se incomodava com a exata observância da lei de Deus e dos preceitos da Igreja. É claro que São José não podia estar, contente com semelhante devoção. Todavia, em sua grande bondade, não quis deixar sem recompensa aquele pequeno obséquio, que o seu devoto lhe oferecia diariamente.

Aconteceu, pois, que, estando aquele senhor gravemente enfermo, viu entrar no seu quarto um personagem distinto e muito semelhante à imagem que venerava diariamente. O referido personagem não falava, não abria a boca, mas olhava para ele fixamente com ar de amorosa censura. Sob aquela vista e aquele olhar, o moribundo sentiu-se tocado no íntimo de seu coração, concebeu viva dor de seus pecados e, tendo feito logo uma confissão sincera e dolorosa, expirou pouco depois em paz com Deus e com São José.

18. EFICÁCIA DO BOM EXEMPLO 

Como preparação à Páscoa, pregava-se naquela vila uma santa missão. Vivia ali um capitão-médico que, como cristão, era um dos piores. Assistia as pregações, mas apenas com o intuito de ridicularizar os padres, o que não deixava de ser um mau exemplo muito funesto. Depois de alguns sermões começou, entretanto, a refletir mais seriamente. 

Uma noite, muito em segredo, procurou o pregador com a intenção de fazer-lhe objeções embaraçosas e, talvez, dizer-lhe até palavras injuriosas; mas bem depressa ficou desarmado e terminou por confessar-se e até se sentindo-se muito feliz. Voltou no dia seguinte um pouco triste.
➖ Estou convertido - disse - mas como poderei reparar todo o mal que tenho feito?
➖ Eu sei um meio, disse o missionário: o senhor se confessar em pleno dia, no confessionário da igreja.
➖ Ah! isso é bastante penoso, respondeu o velho militar, mas sinto-me no dever de fazê-lo e o farei.

Às três horas da tarde, dirigiu-se à igreja e ajoelhou-se perto do confessionário, ao redor do qual estavam muitas senhoras esperando a sua vez de confissão. Ficaram, naturalmente, muito surpreendidas, e, curiosas como só elas! Uma delas se atreveu a perguntar-lhe se viera para confessar-se.
➖ Sim, respondeu ele, mas por que me fazeis essa pergunta?
➖ É que o senhor pode se confessar primeiro: o pregador disse que é preciso ceder o lugar aos homens. 
➖ Obrigado, mas ainda não estou preparado. 

Como um relâmpago, correu pela vila a notícia de que o capitão-médico estava na igreja para se confessar; ninguém queria acreditar e todos vinham até à porta da igreja para espreitar o velho capitão. Quando chegou a sua vez, o capitão apresentou-se ao confessionário. Não é preciso dizer que daí em diante a missão teve pleno êxito. Se, em cada paróquia, algumas pessoas influentes tivessem um pouco de coragem, quanto bem não haviam de fazer com o seu exemplo!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

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terça-feira, 10 de junho de 2025

O SENTIDO DA VERDADEIRA DEVOÇÃO A NOSSA SENHORA

É bem possível que o empecilho [à vida espiritual] seja a falta de devoção a Nossa Senhora. Sem esta devoção, a vida interior é impossível, porque não está em conformidade com a vontade de Deus. E esta reside sobretudo em Nossa Senhora. Ela é a solidez da devoção, e não nos lembramos bastante disso. Os principiantes estão com frequência tão ocupados com a parte metafísica da vida espiritual, que não dão a esta devoção a necessária importância. Mencionarei aqui alguns pontos que eles não parecem não levar em consideração.

A devoção à Mãe de nosso Senhor não é um ornamento do sistema católico, uma beleza supérflua, nem mesmo um auxílio, dentre os muitos que podemos ou não empregar, mas é parte integral do cristianismo e, sem ela, nossa religião não é, estritamente falando, cristã. Seria uma religião diferente da que Deus revelou. Nossa Senhora é uma lei distinta de Deus, um meio especial de graça, cuja importância ressalta do ódio instintivo que lhe tem a heresia.

Maria é o pescoço do corpo místico unindo portanto todos os membros à Cabeça, e sendo o canal e o instrumento que dispensa todas as graças. A devoção a nossa Senhor é a verdadeira imitação de Jesus, porque, após a glória do Pai, foi a devoção mais ligada e mais cara ao sagrado Coração. É de uma solidez a toda prova, porque está perpetuamente ocupada como o ódio do pecado e a aquisição de virtudes substanciais. Descuidar-nos dela é desprezar a Deus, pois ela é a sua lei; é ferir a Jesus em sua Mãe.

Deus mesmo a colocou na Igreja, como um poder distinto, e, portanto, o seu culto é eficaz, é fonte de milagres, é parte da nossa religião, que de modo algum podemos pôr de lado. A espiritualidade é necessariamente ortodoxa. Isto é evidente. Ora, a doutrina não seria ortodoxa, se preterisse o ofício e as prerrogativas da Mãe de Deus. Assim, também a espiritualidade não é ortodoxa, em se desviando ou separando duma devoção tão generosa quão justa. Com efeito, um erro de doutrina é duplamente perigoso quando se relaciona com a vida espiritual. Envenena a tudo, e não há prejuízo que não se possa prever para a infortunada alma que lhe é sujeita.

Se, então, tendes os sintomas que indicam algo de errado, algo que vos retarda, verificai primeiro se vossa devoção a Nossa Senhora é o que devia ser, em qualidade e grau, em fé e confiança, em amor e lealdade. A perfeição está sob a sua proteção particular, porque é uma das especiais prerrogativas de que goza como rainha dos santos.

(Excertos da obra 'Progresso na Vida Espiritual', do Pe. Frederick Faber)

OS PAPAS DA IGREJA (XIV)

 


segunda-feira, 9 de junho de 2025

ÓDIO AO PECADO E AMOR AO PECADOR

O que há então aqui? É o amor? É o ódio? Nem uma coisa e nem outra? Sim, há aqui, ao mesmo tempo, ódio e amor. Ódio contra o que vem de você e amor por você. O que quer dizer: ódio contra o que vem de você e amor por você? Isto quer dizer que há ódio contra as suas obras e amor pela obra de Deus.

O que são suas obras, se não são seus pecados? Qual é a obra de Deus, se não é você mesmo, formado por ele à imagem dele e à semelhança dele? Infelizmente, você despreza a obra de Deus e tem afeto pelas suas! Você ama, fora de você, o que você fez e negligencia, em você, a obra de Deus. Assim, você merece se desgarrar, cair, correr para longe de você mesmo e ouvir ser chamado de um sopro que vai e não volta (Sl 77,39).

Volte seu olhar para Aquele que chama você e que grita para você: 'Voltai a mim e eu voltarei a vós' (Zc 1,3). Deus não se afasta quando é olhado. Ele fica e é imutável, tanto para repreender quanto para corrigir. Se ele está longe de você foi porque você se afastou dele. Foi você que se separou; não foi Ele que se escondeu. Desta forma então, preste atenção à sua voz: 'Voltai a mim e eu voltarei a vós'. Em outros termos: 'Quando eu volto a você, é você que volta a mim'. 

O Senhor, efetivamente, busca os fugitivos e se eles retornam para ele, eles se veem iluminados. Para onde fugirá você, infeliz, ao fugir para longe de Deus? Para onde fugirá você, ao se afastar daquele que não está restrito a nenhum lugar e que não se ausenta de nenhum lugar? Ao se unir a ele encontra-se a liberdade e ao se afastar dele encontra-se o castigo. Para quem se afasta ele é um juiz e, para quem retorna, ele é um pai.

(Santo Agostinho, Sermão 42)