16. O SENHOR PODE PERDOAR-ME OS PECADOS?
Um conhecido comerciante luterano de uma cidade do Norte adoeceu gravemente. Mandou chamar o pastor protestante e disse-lhe:
➖ Senhor pastor, o senhor pode perdoar-me os pecados?
➖ Não se perturbe, senhor, fique tranquilo: Deus já lhe perdoou tudo.
➖ Não pergunto se Deus já me perdoou; pergunto se o senhor pastor tem o poder de perdoar os meus pecados.
➖ Ah! isso eu não tenho, respondeu o pastor.
➖Sinto muito, senhor pastor. Sempre fui um protestante crente e li com confiança a Bíblia. No Evangelho de São João li que Nosso Senhor disse aos Apóstolos: 'Recebei o Espírito Santo: a quem perdoardes os pecados, serão perdoados, e a quem os retiverdes, estes lhe serão retidos'. Ora, se o senhor pastor não pode perdoar os meus pecados, é claro que não estamos na verdadeira Igreja de Cristo. Dito isto, despediu o pastor.
Logo depois mandou chamar um sacerdote católico, o qual, ao entrar no quarto, foi recebido com estas palavras:
➖ Senhor Padre, o senhor pode perdoar os meus pecados?
➖ Posso, sem dúvida; mas o senhor é protestante!...
➖ E se eu me fizer católico, poderia?
➖ Sem dúvida alguma.
➖ Peço-lhe então que me receba na Igreja Católica: quero morrer na Igreja de Cristo e com o perdão dos meus pecados.
Foi instruído então nas verdades católicas, fez a abjuração diante de toda a família e a profissão solene de fé católica. Em seguida recebeu os últimos sacramentos da Igreja e morreu feliz (Muzzatti II, 214).
17. UM DEVOTO POUCO DEVOTO
Em Veneza, cidade da Itália, um senhor distinto costumava rezar todos os dias diante de uma imagem de São José, que conservava em seu quarto. Entretanto, muito pouco se incomodava com a exata observância da lei de Deus e dos preceitos da Igreja. É claro que São José não podia estar, contente com semelhante devoção. Todavia, em sua grande bondade, não quis deixar sem recompensa aquele pequeno obséquio, que o seu devoto lhe oferecia diariamente.
Aconteceu, pois, que, estando aquele senhor gravemente enfermo, viu entrar no seu quarto um personagem distinto e muito semelhante à imagem que venerava diariamente. O referido personagem não falava, não abria a boca, mas olhava para ele fixamente com ar de amorosa censura. Sob aquela vista e aquele olhar, o moribundo sentiu-se tocado no íntimo de seu coração, concebeu viva dor de seus pecados e, tendo feito logo uma confissão sincera e dolorosa, expirou pouco depois em paz com Deus e com São José.
18. EFICÁCIA DO BOM EXEMPLO
Como preparação à Páscoa, pregava-se naquela vila uma santa missão. Vivia ali um capitão-médico que, como cristão, era um dos piores. Assistia as pregações, mas apenas com o intuito de ridicularizar os padres, o que não deixava de ser um mau exemplo muito funesto. Depois de alguns sermões começou, entretanto, a refletir mais seriamente.
Uma noite, muito em segredo, procurou o pregador com a intenção de fazer-lhe objeções embaraçosas e, talvez, dizer-lhe até palavras injuriosas; mas bem depressa ficou desarmado e terminou por confessar-se e até se sentindo-se muito feliz. Voltou no dia seguinte um pouco triste.
➖ Estou convertido - disse - mas como poderei reparar todo o mal que tenho feito?
➖ Eu sei um meio, disse o missionário: o senhor se confessar em pleno dia, no confessionário da igreja.
➖ Ah! isso é bastante penoso, respondeu o velho militar, mas sinto-me no dever de fazê-lo e o farei.
Às três horas da tarde, dirigiu-se à igreja e ajoelhou-se perto do confessionário, ao redor do qual estavam muitas senhoras esperando a sua vez de confissão. Ficaram, naturalmente, muito surpreendidas, e, curiosas como só elas! Uma delas se atreveu a perguntar-lhe se viera para confessar-se.
➖ Sim, respondeu ele, mas por que me fazeis essa pergunta?
➖ É que o senhor pode se confessar primeiro: o pregador disse que é preciso ceder o lugar aos homens.
➖ Obrigado, mas ainda não estou preparado.
Como um relâmpago, correu pela vila a notícia de que o capitão-médico estava na igreja para se confessar; ninguém queria acreditar e todos vinham até à porta da igreja para espreitar o velho capitão. Quando chegou a sua vez, o capitão apresentou-se ao confessionário. Não é preciso dizer que daí em diante a missão teve pleno êxito. Se, em cada paróquia, algumas pessoas influentes tivessem um pouco de coragem, quanto bem não haviam de fazer com o seu exemplo!
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)
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