69. AS MULHERES DE VINSPERG
O fato é histórico. Conrado III sitiava a praça de Vinsperg, defendida por Guelfo, duque da Baviera. O cerco era tão apertado que, dentro da cidade, os habitantes passavam fome. Não havia outro recurso: ou render-se ou sucumbir.
Uma tarde, abre-se uma porta da fortaleza e, precedida de uma bandeira branca, surge uma procissão melancólica que se dirige ao campo inimigo. São as mulheres de Vinsperg, desgrenhadas, pálidas, que querem parlamentar com o Imperador. Reunidas em sua presença, falou uma em nome das outras:
➖ Senhor, a guerra não deve cevar seres indefesos, como nós mulheres; os homens é que lutaram; perdoai as mulheres e permiti, que elas se retirem da fortaleza.
➖Concedido - respondeu o Imperador - amanhã, ao sair o sol, abandonareis a cidade!
➖ Já que sois tão bom, pedimos a Vossa Majestade mais uma graça: como lembrança de nossa cidade, deixai-nos levar cada uma o que mais ame de tudo que tem no seu lar.
➖ Concedido - disse Conrado - cada mulher pode levar o que mais amar e estimar.
Na manhã seguinte, as forças sitiantes formaram-se em duas filas. Soaram os clarins. Conrado quer render homenagem às mulheres que vão retirar-se da fortaleza. Fez-se um silêncio solene. Abriram-se as portas e apareceram as mulheres. O imperador ficou atônito diante daquele espetáculo: viu cada uma das mulheres levando às costas o próprio marido...
Os soldados prestam continência. O Imperador se admira diante daquela prova de amor conjugal. Homens e mulheres são perdoados e admitidos novamente às boas graças do Imperador. Parece que, também hoje em dia, muitos maridos só se salvarão pelas orações e sacrifícios de suas virtuosas esposas...
70. O CASTIGO NÃO TARDOU
Durante o domínio comunista na província de Badajoz (Espanha), deu-se em Navalvillar de Pela um caso triste e revoltante, que não ficou sem castigo.
Um dos milicianos vermelhos, atirando um laço à cabeça do Cristo da Caridade e derrubando a sagrada imagem, saiu arrastando-a pelas ruas. Não contente, arrancou-lhe os olhos com ferocidade. Passados poucos dias, estando ele de guarda, sentiu que lhe fugia a vista e gritou por socorro. Quando chegaram os milicianos, que bem o conheciam, nada mais puderam fazer: o mutilador de imagens sagradas ficara completamente cego.
71. NÃO LHE SOBRARA TEMPO
Na famosa batalha de Watemberg, em que o Eleitor da Saxônia perdeu a liberdade e o nome usurpado de imperador, o combate prolongou-se por nove horas. Dizia-se que o sol havia parado, como nos tempos de Josué, sobre o campo de batalha.
O rei da França perguntou mais tarde ao Duque de Alba, que fora general do exército imperial, se era verdade o que diziam da parada do sol. O Duque então respondeu:
➖ Majestade, naquele dia eu tive tanto que fazer na terra que não me sobrou tempo para olhar para o céu.
Quantos homens poderiam dizer a mesma coisa, embora com menos glória do que o grande general de Carlos V! Sim, a quantos homens a preocupação das coisas da terra não lhes deixa um minuto para pensar no céu! É triste, mas é um fato.
72. PEDRAS DE MÁRMORE
Conta-se que em Gênova, a soberba cidade dos ricos e famosos cemitérios, vivia uma velha vendedora de frutas, cujo maior desejo e máxima aspiração era ter, depois da morte, um formoso mausoléu. Para esse fim passava a vida ajuntando centavo por centavo, economizando, impondo-se inúmeras privações e vivendo miseravelmente.
Ajuntara, finalmente, a soma necessária e, após a morte, teve realmente a sua pedra de mármore, o seu ambicionado e rico mausoléu. Que tristeza! O fruto de todo aquele trabalho, de toda aquela vida não ia além de uma pedra para a sepultura! Que vaidade louca!
E, todavia, a maior parte dos ricos e mormente dos avarentos não são ainda mais néscios? Não vivem trabalhando, lutando e economizando para que outros, depois de sua morte, gozem de suas economias e desfrutem das suas riquezas? E eles com que se contentam? Com algumas lajes de pedras, a que pomposamente se dá o nome de mausoléu!
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)










