sábado, 4 de outubro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (43/46)

 

43. UMA VERDADEIRA EDUCADORA

Aos 20 de março de 1869 morria no Tirol (Austria) uma educadora por nome Joana da Cruz. Depois que ela deu o último suspiro, todos diziam: 'Morreu uma santa! Sim, morreu uma santa!'

Os que haviam frequentado a sua escola gostavam de contar a impressão que sentiam cada vez que a viam entrar na classe. 'Parecia-nos - diziam - que era Jesus que entrava. Falava como Jesus. Comportava-se como Jesus. De seus olhos e de todo o seu ser resplandecia a imagem de Jesus'. Aquela santa educadora revestira-se realmente de Jesus Cristo.

44. A TENTAÇÃO E O SINAL DA CRUZ

Santa Margarida, mártir, era uma donzela de rara beleza. Aos dezesseis anos de idade, dirigiu-se a seu pai, que era pagão, e disse-lhe: 
➖ Meu pai, quero confiar-lhe um segredo. O senhor é sacerdote dos ídolos; eu, porém, sou batizada e creio em Jesus Cristo.

Imediatamente apoderou-se daquele homem um furor selvagem. Atirou-se sobre a filha, como uma fera e logo mandou enviá-la ao cárcere. Na prisão apareceu-lhe o demônio, murmurando-lhe ao ouvido: 'Ora, vamos, não seja tola. Você é jovem e bela. Aí bem perto a espera um noivo pagão, rico e nobre; com ele você viverá dias felizes. Abandone a Jesus'.

Quereis saber o que fez Margarida nessa terrível tentação, nesse perigo iminente de perder a sua alma? Devotamente fez o sinal da cruz e, no mesmo instante, o demônio desapareceu. Aproximou-se dela o Anjo da Guarda e a consolou. Passados alguns dias foi Margarida conduzida ao lugar do martírio. 

Diante daquela juventude radiante, daquela formosura encantadora, o algoz ficou comovido e a espada vacilou em sua mão. Iria ele desistir de dar o golpe? Iria ela perder, a palma do martírio? Margarida fez o sinal da cruz e disse: 'Dê o golpe, irmão; a cruz é minha força!'
Inclinou a cabeça e colheu a palma do martírio. A cruz deu-lhe a Vitória.

45. POR QUE A MORTIFICAÇÃO?

São Nilo, antes de sua conversão, pecara contra a santa pureza. Converteu-se. E desde a sua conversão jamais comeu carne, jamais bebeu vinho ou outra bebida alcoólica. Comia somente legumes e frutas, bebia somente água. Renunciou, igualmente, ao seu leito macio e dormia sobre tábuas. A sua penitência, a sua mortificação foi sincera, foi perseverante; nunca mais recaiu nas antigas faltas.

Dizem os mestres espirituais que o uso de muita carne torna o homem sensual e propenso ao pecado; o vinho por sua vez, e em geral as bebidas alcoólicas, são a causa de graves tentações impuras.

46. O PODER DA CRUZ

O caso que vou contar é engraçado, mas dá-nos uma preciosa lição sobre o poder da santa cruz. Tinham os monges de certo convento o sagrado dever de descer todos os dias à igreja e, ali, sentando-se o Abade em sua grande cadeira de superior, e eles nos bancos do presbitério, cantavam os louvores de Deus.

Sucedeu que, um dia, o santo Abade Leufrido se achava adoentado em seu pobre leito e não pode descer para presidir ao oficio em sua igreja. O demônio, que vive rodeando também os santos e servos de Deus, achou que era chegada a ocasião de todos os monges lhe prestarem reverência. Tomou, pois, o hábito e a figura do Abade, desceu com os outros ao presbitério e sentou-se depressa na grande cadeira com ar de importância. Todos os monges fizeram-lhe reverência; mas um deles, chegando atrasado por vir da cela do Abade, viu com espanto outro Leufrido ali sentado.

Voltando imediatamente à cela do superior, disse alvoroçado:
➖ Dom Abade, que é isso? Estais ao mesmo tempo em dois lugares? Acabo de encontrar-vos sentado no presbítero, e estais aqui... o que é isso?
Caiu o Abade na conta do diabólico estratagema e, sentindo-se com forças bastante, foi depressa à igreja; mas, antes de entrar, no presbitério, traçou o sinal da cruz em todas as portas e janelas. Entrou, depois, no presbitério e, armado de um bom chicote molhado em água benta, começou a açoitar o fingido Abade.

O demônio fugiu espavorido e Leufrido 0 seguiu. O demônio queria passar por uma porta e, embora estivesse aberta, voltou correndo; aproximou-se de uma janela, e não conseguiu passar, porque em toda parte encontrava pela frente o sinal da cruz. O Abade surrou o demônio a valer; os monges riam-se a bandeiras despregadas; e o diabo escapou, afinal, por uma chaminé! É que o santo se esquecera de fazer ali o sinal sagrado...

Leufrido tomou, então, a palavra e explicou aos religiosos que Deus permitira aquela cena para que eles conhecessem o poder da Cruz e, nas tentações, não deixassem de benzer-se com o sinal sagrado, que o demônio tanto teme e detesta.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

SOFRER COM CRISTO OU SOFRER SEM CRISTO


'Você pode sofrer com Cristo ou sofrer sem Ele'

Essa é a nossa verdadeira e decisiva escolha. Porque viver é uma luta constante e impossível sem tribulações de toda espécie. O Céu não é aqui. Aqui é o caminho para o Céu, moldado e construído por aflições, quedas, tropeços, sofrimento... Sim, há que se desejar e buscar ardentemente a suavidade da graça, a paz interior, a felicidade de uma vida simples e com saúde. Mas tudo - tudo mesmo - nesta vida, é transitório e fugaz. O que se apreende hoje com força nas duas mãos, amanhã é apenas fumaça que se esvai entre os dedos. O que hoje nos impulsiona como artífices de toda obra e toda intenção, amanhã nos abandona à prostração completa de corpo e de alma.

Eis, portanto, a única via de viver neste mundo: um caminho de pedras, um longo caminho de muitas pedras... cuja medida é a cruz que se leva nesta longa via. O sofrimento não é uma atribuição exclusiva dos santos, a dor não é intrínseca aos arautos da graça divina. O que separa os filhos dos homens dos filhos de Deus é a maneira com que cada um leva a sua cruz, se a renega e se revolta contra ela, ou se a acolhe e a abraça como instrumento de graça e salvação.

Viver é carregar a cruz de cada dia com Cristo ou sem Cristo. Para uns, sofrimento perdido e caminho sem rumo. Como filhos de Deus, a nossa escolha é simples: sofrer com Cristo e compartilhar a nossa cruz com a Cruz do Calvário: 'Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve (Mt 11,28-30).

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

SOBRE ANJOS E ARCANJOS


Que há anjos, muitas páginas da Sagrada Escritura o atestam. Mas é preciso saber que a palavra 'anjo' designa a sua função: 'ser mensageiro'. E chamamos 'arcanjos' aos que anunciam os grandes acontecimentos. Foi assim que o arcanjo Gabriel foi enviado à Virgem Maria; para este ministério, para anunciar o maior de todos os acontecimentos, impunha-se enviar um anjo da mais alta estirpe.

Do mesmo modo, quando se tratou de manifestar um poder extraordinário, foi Miguel que foi enviado. Na verdade, a sua ação, tal como o seu nome que quer dizer 'Quem como Deus?', faz compreender aos homens que ninguém pode realizar o que compete apenas a Deus. O antigo inimigo, que desejou por orgulho fazer-se semelhante a Deus, dizia: 'Eu subirei aos céus; erigirei o meu trono acima das estrelas; serei semelhante ao Altíssimo' (Is 14,13).

Mas o Apocalipse diz-nos que, no fim dos tempos, quando for abandonado à sua própria força, antes de ser eliminado pelo suplício final, ele terá de combater contra o arcanjo Miguel: 'Houve um combate nos céus: Miguel e os seus anjos combateram contra o Dragão. E também o Dragão combatia com os seus anjos; mas não venceu e foi precipitado no abismo' (Ap 12,7).

À Virgem Maria, foi então Gabriel, cujo nome significa 'Força de Deus', que foi enviado; não é verdade que ele vinha anunciar aquele que quis manifestar-se numa condição humilde, para triunfar do orgulho do demônio? Foi, pois, pela 'Força de Deus' que foi anunciado aquele que vinha como 'o Senhor dos exércitos, poderoso nos combates' (Sl 23,8).

Quanto ao arcanjo Rafael, o seu nome significa 'Deus cura'. Na verdade, foi ele que livrou das trevas os olhos de Tobias, tocando-os como toca um médico vindo do céu (Tb 11,17). Aquele que foi enviado para cuidar o justo na sua enfermidade merece bem ser chamado 'Deus cura'.

(São Gregório Magno)

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

LADAINHA DE SANTA TERESINHA DE JESUS


Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, eu vos agradeço todos os favores e todas as graças com que enriquecestes a alma de vossa serva Teresa do Menino Jesus durante os 24 anos que passou na Terra. Pelos méritos de tão querida santa, concedei-me a graça que ardentemente vos peço [fazer o pedido por intercessão se Santa Teresinha], se este estiver conforme a Vossa Santíssima vontade e para salvação de minha alma.

Ajudai minha fé e minha esperança, ó Santa Teresinha, cumprindo, mais uma vez, sua promessa de que ninguém vos invocaria em vão, derramando sobre nós uma chuva de rosas.

 Santa Teresinha do Menino Jesus, 
Rogai por nós. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém. [repetir após cada uma das 24 invocações abaixo]
 Pequena Rosa de Jesus, ...
 Filha favorita de Maria, ...
 Esposa fiel de Jesus, ...
 Mãe de inúmeras almas, ...
 Exemplo de santidade, ...
 Milagre das virtudes, ...
 Prodígio de milagres, ...
 Virgem Prudente, ...
 Heroína da fé, ...
 Anjo de caridade, ...
 Violeta da humildade, ...
 Mistica passionária, ...
 Lírio Puríssimo do Carmelo, ...
 Flor seleta da Igreja, ...
 Rosa incensada de amor, ...
 Mártir de amor, ...
 Mensageira da Paz, ...
 Encanto do Céu e da Terra, ...
 Padroeira das Missões, ...
 Semeadora de rosas, ...
 Mestra da infância espiritual, ...
 Advogada dos sacerdotes, ...
 Aquela que prometeu passar o seu Céu fazendo o bem na Terra, ...

terça-feira, 30 de setembro de 2025

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XLI)


141. São Gregório e São Tomás ensinam que se pode pecar de quatro maneiras diferentes por meio de atos de orgulho. A primeira é quando consideramos que possuímos algum bem, seja corporal ou espiritual, por nós mesmos, e nos gloriamos dele como se realmente nos pertencesse, sem pensar em Deus, que é o doador de todos os bens. Foi com esse orgulho que Arfaxad, rei dos medos, pecou quando se gloriou no poder de seu enorme exército; e o rei Nabucodonosor pecou da mesma forma quando se vangloriou da construção da Babilônia: 'Não é esta a grande Babilônia que eu construí com a força do meu poder?' [Dn 4,27]. Da mesma forma, o homem rico, mencionado em São Lucas, pecou quando se deleitou com suas riquezas e as considerou como sua própria substância, dizendo: 'Vou reunir todas as coisas e direi à minha alma: alma, você tem muitos bens guardados para muitos anos' [Lc 12,18-19].

E, portanto, podemos dizer que é por meio desse orgulho que todos pecam: aqueles que se lisonjeiam e se gastam em ostentação, glorificando-se por seus grandes talentos, ou por suas riquezas, ou por sua prudência, ou por sua eloquência, ou pela beleza de seu corpo, ou pelo custo de suas vestes, como se Deus não tivesse nada a ver com isso, e que, estimando-se imoderadamente, desejam também ser estimados pelos outros. Este é o verdadeiro orgulho, porque se Deus nos deu todas essas coisas boas para nosso uso, Ele reservou a glória delas para si mesmo: 'A Deus somente seja dada a glória e a honra' [1Tm 1,17] e quem usurpa essa glória é culpado de orgulho.

E, portanto, devemos observar com São Tomás que, para cometer um pecado de orgulho, não é necessário declarar positivamente que esses dons não vêm de Deus, pois isso seria um pecado de infidelidade, mas basta que nos gloriemos deles como se nos pertencessem, 'o que se relaciona com o orgulho' [2a 2æ, qu. clxii].

142. A segunda maneira pela qual podemos pecar em nossas ações por orgulho é quando, sabendo e admitindo que recebemos tal ou tal dom de Deus, atribuímos isso interiormente ao nosso próprio mérito e desejamos que os outros façam o mesmo, e em nosso comportamento exterior nos comportamos como se realmente merecêssemos receber esses dons. Foi assim que Lúcifer pecou por orgulho; pois, apaixonado por sua própria beleza e nobreza, e embora reconhecesse que Deus era o autor de tudo isso, ele teve a presunção de pensar que ele mesmo o merecia e era digno de sentar-se ao lado de Deus no mais alto dos céus: 'subirei ao céu' [Is 14,13].

E, por isso, São Bernardo o repreende, dizendo: 'Ó alma orgulhosa, que obra fizeste para merecer o teu descanso?' O que fizeste, ó ousado, para merecer tal honra? E é assim que pecaram por orgulho aqueles réprobos a quem se faz alusão -  em Lc 17,9 - que, como o fariseu, deram graças a Deus pelo bem que fizeram e pelo mal que deixaram de fazer: 'Ó Deus, eu te dou graças...', mas, ao mesmo tempo, tiveram a presunção de se considerarem de mérito singular, 'confiando em si mesmos'.

Assim, todos aqueles que pecam presumindo que mereceram qualquer bem de Deus são condenados por orgulho, porque, ao atestarem seu próprio mérito, tornam Deus devedor dessa graça, que não seria mais graça se a tivéssemos merecido. Podemos muito bem nos permitir, com Jó, dizer que, por nossos pecados, merecemos a ira de Deus e todo tipo de mal: 'Oh, que meus pecados, pelos quais mereci a ira, fossem pesados na balança' [Jó 6,2], mas não podemos dizer que merecemos a graça ou qualquer bem, como diz São Paulo: 'Se é por graça, não é agora por obras; caso contrário, a graça não é mais graça' (Rm 11,6].

E cada um de nós deve dizer com o mesmo humilde São Paulo: 'Pela graça de Deus sou o que sou' [1Cor 15,10]. Se sou rico, nobre, são ou possuo quaisquer outros dons, tudo isso vem de Deus, que me fez assim, não por meus próprios méritos, mas unicamente por sua própria misericórdia e bondade. Quer eu me abstenha do mal ou faça o bem, devo tudo isso não ao meu próprio mérito, mas à graça de Deus, que me assiste com a sua misericórdia: 'Pela graça de Deus sou o que sou'. E qualquer um que atribua o que é ou o que tem aos seus próprios méritos é culpado de orgulho e apropria-se do que deveria dar à misericórdia e à graça de Deus. Por isso, a Santa Igreja sabiamente termina suas orações com estas palavras: 'Por Jesus Cristo, nosso Senhor'... E com isso protestamos à Divina Majestade que pedimos as dádivas mencionadas nessas orações pelos méritos de Jesus Cristo e que, se nossas orações forem ouvidas, será somente pelos méritos de Jesus Cristo.

Este é um ponto que merece toda a atenção, para que não caiamos por inadvertência no mais terrível orgulho. E Santo Agostinho nos exorta a lembrar que não só todo o bem que temos vem de Deus, mas também que o temos somente por sua misericórdia e não por nossos próprios méritos. 'Quando o homem vê que todo o bem que tem vem da misericórdia de Deus e não de seus próprios méritos, ele deixa de ser orgulhoso' [Sl 84].

143. A terceira maneira pela qual podemos pecar por orgulho é quando atribuímos a nós mesmos algum bem - de qualquer tipo - que, na verdade, não possuímos, seja estimando-nos por esse bem imaginário que existe apenas em nossos pensamentos e desejando que os outros também nos estimem por isso, seja realmente possuindo-o, seja apenas desejando ter esse bem que não temos para poder nos vangloriar e nos gloriar nele, tudo isso é orgulho detestável.

Foi assim que o bispo de Laodicéia pecou, estimando-se rico em méritos quando era apenas desprezível; e, por isso, Deus lhe disse que o vomitaria da sua boca: 'Começarei a vomitar-te da minha boca, porque dizes: sou rico e não tenho necessidade de nada, e não sabes que és miserável e pobre' [Ap 3,16.17]. E é com esse tipo de orgulho que todos pecam, quer se considerem a si mesmos, quer procurem ser considerados pelos outros, em palavras ou ações, como mais ricos, mais sábios, mais importantes ou mais virtuosos do que realmente são.

Pode ser um ato de virtude desejar essas coisas para algum fim honroso, por exemplo, desejar mais conhecimento para poder servir à Santa Igreja, desejar riquezas para poder dar mais esmolas; mas desejar essas coisas para não parecer inferior aos outros ou para adquirir mais estima é apenas orgulho, e como são poucos os que não estão infectados com esse orgulho! Um por uma coisa, outro por outra, quase todos os homens procuram ser estimados acima do que realmente são - e isso sem o menor escrúpulo.

Às vezes, pode ser que o pecado não seja tão grave, seja porque não se trata de um desejo deliberado, seja porque a natureza da ofensa é muito leve; mas, por outro lado, é em si mesmo sempre um pecado muito grave, porque, por meio desse orgulho, o homem não permanece mais sujeito à regra que lhe foi dada por Deus: contentar-se com o seu próprio estado. São Tomás diz: 'Isso é evidentemente da natureza do pecado mortal' [2a 2æ, qu. clxii, art. 5 et 6] e sua doutrina sobre esse ponto é que, quanto maior for o dom do qual nos gloriamos, embora não o possuamos, maior é o nosso orgulho. Portanto, é pior fingir ser santo do que fingir ser nobre ou rico, porque a santidade é um dom maior do que a posição social ou a riqueza. 

E o hábito de desculpar os pecados que cometemos também pertence a esse tipo de orgulho, porque quando nos desculpamos e dizemos que não somos culpados, afirmamos nossa inocência e nos atribuímos uma inocência que não possuímos. E quantas vezes pecamos assim por orgulho, sem nem mesmo saber! São Tomás também atribui ao orgulho o esforço de esconder os nossos pecados e, assim, desculpar e atenuar a maldade deles em nossas confissões [Ibid. art. 4].

144. A quarta maneira pela qual pecamos por orgulho é quando usamos qualquer dom que possamos ter para parecer distintos ou nos considerarmos melhores do que os outros, e para sermos mais estimados e honrados do que eles. Tudo o que temos de bom, seja no corpo ou na alma, na natureza, na fortuna ou na graça, é um dom de Deus, e usar esses dons para tentar ser mais visível do que os outros é orgulho.

É com esse orgulho que o fariseu no Templo considerava sua própria bondade e se colocava acima dos outros, especialmente do publicano: 'Eu não sou como os demais homens, desonestos, injustos, adúlteros, tal como este publicano' [Lc 18,11]. Ele se estimava acima de todos e era, na realidade, o mais orgulhoso de todos. Foi também com esse orgulho que os discípulos pecaram quando se glorificaram em seu dom singular de poder expulsar demônios: 'E eles voltaram com alegria, dizendo: Senhor, até os demônios nos estão submetidos' [Lc 10,17], e nosso abençoado Senhor lhes respondeu com toda a justiça: 'Eu vi Satanás cair do céu como um raio' - como se Ele quisesse dizer - 'Cuidem-se para não se exaltarem como o orgulhoso Lúcifer, para que não caiam como ele caiu'.

São Gregório, de fato, faz esta reflexão de que não há orgulho que se assemelhe tanto ao orgulho diabólico quanto este: 'Isso se aproxima muito de uma semelhança diabólica' [Lib. 23. Mor. cap. iv]. Quem quer que deseje exaltar-se acima dos outros imita Lúcifer, que desejava ser o primeiro entre os anjos e o mais próximo do trono de Deus. Este foi o pecado de Lúcifer quando se deteve em seu desejo de ser exaltado: 'E disseste em teu coração: Eu subirei sobre as nuvens mais altas!' [Is 14,14]. E aqueles que estão sempre tramando para seu próprio avanço e estão insatisfeitos com sua própria condição pecam assim como Lúcifer pecou: 'Subirei!' e devemos nos proteger contra esse pecado diabólico, como diz São Paulo: 'Para que, ensoberbecidos, não caiamos no julgamento do diabo' [1Tm 3,6].
 
E, além disso, devemos também observar o que o mesmo santo pontífice nos diz, que muitas vezes caímos neste pior tipo de orgulho: 'Neste quarto tipo de orgulho, a mente humana cai com muita frequência' e não há dúvida de que é realmente um pecado grave, pois com isso ofendemos tanto a Deus como ao nosso próximo. E quantos homens e mulheres existem, tanto religiosos como seculares, de todos os estados e condições, que cometem este pecado de orgulho com tanta frequência que se torna um hábito predominante neles.

Na prática, percebemos que todos os homens desejam se distinguir em sua arte particular, por mais inferior que seja, e todos buscam primeiro ser estimados tanto quanto os outros e, depois, se distinguir mais do que os outros - Eu subirei! - cada um em sua própria esfera e também fora dela. O homem rico se considera maior do que o homem culto por causa de suas riquezas; o homem culto se considera maior do que o homem rico por causa de seu conhecimento; o homem casto se considera melhor do que aquele que dá esmolas, e aquele que dá esmolas se considera superior ao homem casto. Quanto orgulho! E, no entanto, poucas pessoas estão dispostas a reconhecer que são realmente orgulhosas.

 Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

LADAINHA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

Assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel é o maior dentre os anjos, Príncipe das milícias celestes, protetor da Santa Igreja e da humanidade contra as forças do inferno. Assim, a designação de arcanjo (oitavo coro dos anjos) tem sentido genérico e nominativo, pois certamente São Miguel, sendo o primeiro dentre os Anjos, é o maior dos serafins.


LADAINHA DE SÃO MIGUEL ARCANJO

Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, ouvi-nos.
Cristo, atendei-nos.

Pai celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho redentor do mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Santíssima Trindade, que sois um só Deus, tende piedade de nós.

Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, rogai por nós.
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.

São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, luz dos anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.

São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.

São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas depois da morte, rogai por nós.
São Miguel, nosso príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso advogado, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.

Rogai por nós, ó glorioso São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo,
para que sejamos dignos de suas promessas.

Oremos: Senhor Jesus, santificai-nos por uma bênção sempre nova e concedei-nos, pela intercessão de São Miguel, essa sabedoria que nos ensina a ajuntar riquezas do céu e a trocar os bens do tempo presente pelos da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os séculos dos séculos. Amém.

São Miguel, rogai por nós!
Intercedei a Deus por nós!

domingo, 28 de setembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Bendize, minha alma, louva ao Senhor!' (Sl 145)

Primeira Leitura (Am 6,1a.4-7) - Segunda Leitura (1Tm 6,11-16) -  Evangelho (Lc 16,19-31)

  28/09/2025 - VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

O HOMEM RICO E O POBRE LÁZARO


Na parábola de Jesus no evangelho deste domingo, confrontam-se os valores da riqueza e da pobreza, presentes no corpo e nos sentidos dos liames humanos, fontes diversas que forjam o abismo incomensurável dos destinos eternos da alma. De um lado, o homem rico, avarento e enfastiado pela opulência dos bens materiais; de outro, o mendigo, na pobreza de sua indigência completa, que almejava apenas 'matar a fome com as sobras que caíam da mesa do rico' (Lc 16,21). Duas pessoas tão próximas, tão juntas, como as bordas adjacentes de um abismo profundo moldado pelo paroxismo da indiferença humana.

E este abismo tende a se tornar definitivamente intransponível para ambos ao final de suas vidas mortais. Se há um momento em que todos os homens se tornam absolutamente iguais é a hora da morte. Se há um momento em que os homens se tornam absolutamente desiguais é no momento após a morte. Eis a grande lição do evangelho deste domingo: o céu e o inferno são realidades dogmáticas da fé cristã e o pecado mortal impõe ao condenado a definitiva separação de Deus e sua danação eterna no abismo dos abismos: 'há um grande abismo entre nós; por mais que alguém desejasse, não poderia passar daqui para junto de vós, e nem os daí poderiam atravessar até nós’ (Lc 16,25).

Ricos e pobres, todos nós seremos julgados não pela medida do muito ou pouco que fizemos nesta vida, mas pela medida com que fizemos bem aquilo que era da santa vontade de Deus. Ao morrer impenitente, o rico passa a viver a miséria da sua perdição; o pobre, que era apenas um nome neste mundo, torna-se o Lázaro na côrte eterna de Abraão. E, em contraposição à mendicância e às súplicas nunca ouvidas às suas portas, o rico irá suplicar três vezes pela clemência de Lázaro em seu favor e ao de seus irmãos: 'manda Lázaro molhar a ponta dos dedos... manda Lázaro à casa do meu pai ... se um dos mortos for até eles...' (Lc 16,24.27.30).

A resposta de Abraão não estabelece concessão alguma: 'Se não escutam a Moisés, nem aos Profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos' (Lc 16,31). É uma sentença definitiva sob o primado da verdade eterna. Com efeito, Jesus ressuscitou, mas quantos o escutam? Escutar Moisés e os Profetas é ouvir a Palavra de Deus, seguir Jesus pelas passagens do Evangelho, combater o bom combate da fé, carregar a cruz de todos os dias com Cristo, por Cristo e em Cristo para que um dia, transposta a morte que nos torna homens todos iguais, sejamos os Lázaros da vida eterna.