terça-feira, 30 de dezembro de 2025

'É A VOSSA FACE QUE EU PROCURO!'

Vamos, coragem, pobre homem! Foge um pouco de tuas ocupações. Esconde-te um instante do tumulto de teus pensamentos. Põe de parte os cuidados que te absorvem e livra-te das preocupações que te afligem. Dá um pouco de tempo a Deus e repousa nele.

Entra no íntimo de tua alma, afasta tudo de ti, exceto Deus ou o que possa ajudar-te a procurá-lo; fecha a porta e põe-te à sua procura. Agora fala, meu coração, abre-te e dize a Deus: 'Busco a vossa face; Senhor, é a vossa face que eu procuro' (Sl 26,8). E agora, Senhor meu Deus, ensinai a meu coração onde e como vos procurar, onde e como vos encontrar.

Senhor, se não estais aqui, se estais ausente, onde vos procurarei? E se estais em toda parte, por que não vos encontro presente? É certo que habitais numa luz inacessível, mas onde está essa luz inacessível e como chegarei a ela? Quem me conduzirá e nela me introduzirá, para que nela eu vos veja? E depois, com que sinais e sob que aspecto vos devo procurar? Nunca vos vi, Senhor meu Deus, não conheço a vossa face.

Que pode fazer, altíssimo Senhor, que pode fazer este exilado longe de vós? Que pode fazer este vosso servo, sedento do vosso amor, mas tão longe da vossa presença? Aspira ver-vos, mas vossa face se esconde inteiramente dele. Deseja aproximar-se de vós, mas vossa morada é inacessível. Aspira encontrar-vos, mas não sabe onde estais. Tenta procurar-vos, mas desconhece a vossa face.

Senhor, vós sois o meu Deus, o meu Senhor, e nunca vos vi. Vós me criastes e redimistes, destes-me todos os meus bens e ainda não vos conheço. Fui criado para vos ver e ainda não fiz aquilo para que fui criado.

E vós, Senhor, até quando? Até quando, Senhor, nos esquecereis, até quando nos ocultareis a vossa face? Quando nos olhareis e nos ouvireis? Quando iluminareis os nossos olhos, e nos mostrareis a vossa face? Quando voltareis a nós?

Olhai-nos, Senhor, ouvi-nos, mostrai-vos a nós. Dai-nos novamente a vossa presença para sermos felizes, pois sem vós somos tão infelizes! Tende piedade dos rudes esforços que fazemos para alcançar-vos, nós que nada podemos sem vós.

Ensinai-me a vos procurar e mostrai-vos quando vos procuro; pois não posso procurar-vos se não me ensinais nem encontrar-vos se não vos mostrais. Que desejando eu vos procure, procurando vos deseje, amando vos encontre, e encontrando vos ame.

(Excertos da obra 'Proslógion', de Santo Anselmo)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

O ESPÍRITO DA CRUZ

Irmãos, há muito tempo que não me vedes aqui; não venho aqui com frequência. Vou falar-vos de uma coisa da qual nunca falei, nem aqui, nem algures. E essa coisa desejo-a a todos; sei bem que o meu desejo não chegará a todos. Vou falar-vos do espírito da Cruz.

Quando o Bom Deus cria um corpo humano, dá-lhe uma alma, é um espírito humano; quando o Bom Deus dá a uma alma a graça do batismo, ela tem o espírito Cristão. O espírito da Cruz é uma graça de Deus. Há a graça que faz apóstolos, e assim por diante. O que é o espírito da Cruz?

O espírito da Cruz é uma participação do próprio espírito de Nosso Senhor levando a sua Cruz, pregado à Cruz, morrendo na Cruz. Nosso Senhor amava a sua Cruz, desejava-a. Que pensava Ele levando a sua Cruz, morrendo na Cruz? Há aí grandes mistérios: quando se tem o espírito da Cruz, entra-se na inteligência destes mistérios. Existem poucos Cristãos com o espírito da Cruz, vêm-se as coisas de modo diferente do comum dos homens.

O espírito da Cruz ensina a paciência; ensina a amar o sofrimento, a fazer sacrifícios. Quando se tem o espírito da Cruz, é-se paciente, ama-se o sofrimento, fazem-se generosamente os sacrifícios que o Bom Deus nos pede. Quer-se a vontade de Deus, e ama-se; acha-se bem o que nos pede.

Os santos queixavam-se muito a Deus que Ele não lhes dava bastante sofrimento; desejavam sofrer. Por que? Porque no sofrimento se pareciam mais com Nosso Senhor. Na vida de Santa Isabel da Hungria, é dito que, depois de a terem despojado de todos os seus bens, ainda a expulsaram de casa: quando viu que nada mais possuía, foi aos Frades Menores mandar cantar um Te Deum para agradecer a Deus por lhe ter tirado tudo. Tinha o espírito da Cruz.

A Imitação diz alguma coisa do que faz o espírito da Cruz: ama mais ter menos do que mais, ama mais estar em baixo do que em cima. Ama ser desprezado. É isto o espírito da Cruz; por isso, é muito raro. Não o tendes muito, o espírito da Cruz. Posso bem dizer-vo-lo, há muito tempo que vos conheço, desde que estou convosco. Tende-lo menos do que o tivestes outrora.

Logo que tendes algum sofrimento, depressa dizeis: 'Meu Deus, livrai-me disto, livrai-me disto'; fazeis novenas para vos libertardes. É preciso amar um pouco mais o sofrimento, e não pedir tão depressa para se ver livre dele. Se tivésseis o espírito da Cruz, veríamos muitas coisas que não vemos; e há as que vemos, que talvez não víssemos.

É preciso ter um pouco mais do espírito da Cruz; é preciso pedi-lo. Tratemos de amar a Cruz, de amar a vontade de Deus.

(Excertos do último sermão do Padre Emmanuel-André, proferido em 14 de setembro de 1902)

domingo, 28 de dezembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Felizes os que temem o Senhor e trlham seus caminhos!(Sl 127)

Primeira Leitura (Eclo 3,3-7.14-17a) - Segunda Leitura (Cl 3,12-21) -  Evangelho (Mt 2,13-15.19-23)

  28/12/2025 - FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

SAGRADA FAMÍLIA


Este é o Domingo da Sagrada Família. Deus veio ao mundo por meio da família; eis porque a família é a fonte primária da sociedade, síntese da vida cristã autêntica e a primeira igreja. E que modelo de família cristã Deus legou ao mundo: Jesus, Maria e José: Jesus é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade; Maria, a Virgem Mãe de Deus, e São José, esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus. Família sagrada que viveu em plenitude a submissão à perfeição do amor; submissão que se expressa pelos sentimentos de entrega e renúncia em tudo e não pelo servilismo complacente.

Na humilde casa de Nazaré, três pessoas eram pai, mãe e filho, em natureza sobrenatural exatamente inversa à ordem natural: São José, patriarca e pai de família devotado, com direitos naturais legítimos sobre a esposa e o filho, era o menor em perfeição; Nossa Senhora, esposa e mãe, era Mãe de Deus e de todos os homens; Jesus, a criança indefesa e submissa aos pais, é o Deus feito homem para a salvação do mundo. Portentoso mistério que revela a singular santidade da família humana, moldada sobre clara hierarquia divina, moldada por Deus para ser escola de santificação, amor, renúncia e salvação.

Eis o legado da Sagrada Família às famílias cristãs: a oração cotidiana santifica os pais e os filhos numa obra incomensurável do amor de Deus e a fortalece contra todos as tribulações. Sim, a Sagrada Família também viveu dias de extrema angústia, perseguição, contrariedades, sacrifícios, exílio: 'Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito...porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo' (Mt 2, 14). Quantas não são as tribulações e ataques que as forças do mal promovem contra a família cristã nos dias de hoje. Mais do que nunca, é preciso o heroísmo cristão, a perseverança, a fidelidade a Cristo no ambiente familiar. Isso só é possível na oração em família. Que pais e filhos vivam juntos a plenitude do amor em família! Que construam juntos, tijolo por tijolo, a felicidade que tem Deus por plenitude! Vida de família é, antes de tudo, vida de oração em comum, em perfeita comunhão com Cristo, em perfeita comunhão com a Sagrada Família! E viver em oração não significa rezar simplesmente o tempo todo, mas transformar cada ato, trabalho e pensamento em oração.

Amar em plenitude é cumprir à risca a santa vontade de Deus. Que bela obra de santificação se constrói a cada dia, no seio de uma família cristã, os pais e os filhos que vivem, na pequenez de suas lidas e esforços humanos, a enorme glória de servir a Deus em todos e em tudo. Em Nazaré, Deus tornou a família modelo e instrumento de santificação; que em nossas casas e em nossas famílias, a Sagrada Família seja o modelo e instrumento para a nossa vida e para nossa santificação de todos os dias!

sábado, 27 de dezembro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (69/72)

 

69. AS MULHERES DE VINSPERG

O fato é histórico. Conrado III sitiava a praça de Vinsperg, defendida por Guelfo, duque da Baviera. O cerco era tão apertado que, dentro da cidade, os habitantes passavam fome. Não havia outro recurso: ou render-se ou sucumbir.

Uma tarde, abre-se uma porta da fortaleza e, precedida de uma bandeira branca, surge uma procissão melancólica que se dirige ao campo inimigo. São as mulheres de Vinsperg, desgrenhadas, pálidas, que querem parlamentar com o Imperador. Reunidas em sua presença, falou uma em nome das outras:
➖ Senhor, a guerra não deve cevar seres indefesos, como nós mulheres; os homens é que lutaram; perdoai as mulheres e permiti, que elas se retirem da fortaleza.
➖Concedido - respondeu o Imperador - amanhã, ao sair o sol, abandonareis a cidade!
➖ Já que sois tão bom, pedimos a Vossa Majestade mais uma graça: como lembrança de nossa cidade, deixai-nos levar cada uma o que mais ame de tudo que tem no seu lar.
➖ Concedido - disse Conrado - cada mulher pode levar o que mais amar e estimar.

Na manhã seguinte, as forças sitiantes formaram-se em duas filas. Soaram os clarins. Conrado quer render homenagem às mulheres que vão retirar-se da fortaleza. Fez-se um silêncio solene. Abriram-se as portas e apareceram as mulheres. O imperador ficou atônito diante daquele espetáculo: viu cada uma das mulheres levando às costas o próprio marido...

Os soldados prestam continência. O Imperador se admira diante daquela prova de amor conjugal. Homens e mulheres são perdoados e admitidos novamente às boas graças do Imperador. Parece que, também hoje em dia, muitos maridos só se salvarão pelas orações e sacrifícios de suas virtuosas esposas...

70. O CASTIGO NÃO TARDOU

Durante o domínio comunista na província de Badajoz (Espanha), deu-se em Navalvillar de Pela um caso triste e revoltante, que não ficou sem castigo.

Um dos milicianos vermelhos, atirando um laço à cabeça do Cristo da Caridade e derrubando a sagrada imagem, saiu arrastando-a pelas ruas. Não contente, arrancou-lhe os olhos com ferocidade. Passados poucos dias, estando ele de guarda, sentiu que lhe fugia a vista e gritou por socorro. Quando chegaram os milicianos, que bem o conheciam, nada mais puderam fazer: o mutilador de imagens sagradas ficara completamente cego.

71. NÃO LHE SOBRARA TEMPO

Na famosa batalha de Watemberg, em que o Eleitor da Saxônia perdeu a liberdade e o nome usurpado de imperador, o combate prolongou-se por nove horas. Dizia-se que o sol havia parado, como nos tempos de Josué, sobre o campo de batalha.

O rei da França perguntou mais tarde ao Duque de Alba, que fora general do exército imperial, se era verdade o que diziam da parada do sol. O Duque então respondeu: 
➖ Majestade, naquele dia eu tive tanto que fazer na terra que não me sobrou tempo para olhar para o céu.

Quantos homens poderiam dizer a mesma coisa, embora com menos glória do que o grande general de Carlos V! Sim, a quantos homens a preocupação das coisas da terra não lhes deixa um minuto para pensar no céu! É triste, mas é um fato.

72. PEDRAS DE MÁRMORE

Conta-se que em Gênova, a soberba cidade dos ricos e famosos cemitérios, vivia uma velha vendedora de frutas, cujo maior desejo e máxima aspiração era ter, depois da morte, um formoso mausoléu. Para esse fim passava a vida ajuntando centavo por centavo, economizando, impondo-se inúmeras privações e vivendo miseravelmente.

Ajuntara, finalmente, a soma necessária e, após a morte, teve realmente a sua pedra de mármore, o seu ambicionado e rico mausoléu. Que tristeza! O fruto de todo aquele trabalho, de toda aquela vida não ia além de uma pedra para a sepultura! Que vaidade louca!

E, todavia, a maior parte dos ricos e mormente dos avarentos não são ainda mais néscios? Não vivem trabalhando, lutando e economizando para que outros, depois de sua morte, gozem de suas economias e desfrutem das suas riquezas? E eles com que se contentam? Com algumas lajes de pedras, a que pomposamente se dá o nome de mausoléu!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)



sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

TEMPO E OITAVAS DO NATAL

 

É sempre importante destacar que o Natal não contempla apenas o dia 25 de dezembro (com início solene da sua celebração na noite do dia 24 de dezembro). Na verdade, este é apenas o primeiro dia do Tempo do Natal, que transcorre desde o dia 25 de dezembro até o domingo do Batismo do Senhor de acordo com o atual calendário litúrgico e que, junto ao Tempo do Advento, constitui o período chamado de 'Ciclo do Natal'. Os oito dias entre 25 de dezembro e 1º de janeiro são chamados 'Oitava de Natal' (cuja origens remontam as grandes festas judaicas que duravam oito dias e ao simbolismo do oitavo dia, como dia simbólico da eternidade, tempo sem fim que se segue ao período de uma semana convencional dos tempos humanos). Na Oitava de Natal, são celebradas as seguintes festas particulares:

26 de dezembro - Santo Estêvão: primeiro mártir do cristianismo, símbolo de todos que morreram em nome de Cristo.

27 de dezembro - São João Evangelista: 'o discípulo amado', símbolo de todos que seriam capazes de morrer em nome de Cristo.

28 de dezembro - Santos Inocentes: símbolo de todos que morreram por Cristo sem o saber. 

Domingo da Oitava - Sagrada Família: símbolo e modelo para todas as famílias cristãs (caso o domingo coincida com o dia 1º de janeiro, a data é transferida para o dia 30 de dezembro).

1º de janeiro - Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. 

Esta semana é a mais santa de todas no ano, um tempo propício para se alcançar graças extraordinárias para toda Igreja e para todos os cristãos e, muito especialmente, para as benditas almas do Purgatório. Eis o tempo mais propício e mais especial para se rezar na intenção das almas de nossos entes queridos falecidos! 

O tempo de Natal é concluído com as seguintes datas principais:

6 de Janeiro – Solenidade da Epifania do Senhor ou Dia de Reis.
Domingo depois da Epifania – Festa do Batismo de Jesus Cristo.

No calendário litúrgico tradicional, o Tempo de Natal compreendia um período maior, que se estendia desde o dia 25 de dezembro até o dia 13 de janeiro, contemplando as seguintes festas principais:

25 de Dezembro – Nascimento do Menino Jesus.
28 de Dezembro – Massacre dos Santos Inocentes.
Domingo entre o Natal e a Oitava – Apresentação do Menino Jesus no Templo.
1 de Janeiro – Oitava de Natal.
Domingo entre a Oitava e a Epifania – Festa do Santíssimo Nome de Jesus (data transferida para o dia 02 de janeiro, no caso de não ocorrer um Domingo entre a Oitava do Natal e a Epifania).
6 de Janeiro – Epifania ou Dia de Reis.
Domingo depois da Epifania – Festa da Sagrada Família.
13 de Janeiro – Batismo de Jesus Cristo.

FRASES DE SENDARIUM (LXV)

'Deus é servido apenas quando é servido
de acordo com a sua Santa Vontade' 

(São Padre Pio)

Que eu não seja escravo e nem senhor da argila humana que me molda; e que eu aprenda, com o mais puro amor dos anjos, a cumprir sempre, em tudo, com todos, o tempo todo, a Santa Vontade de Deus.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!

Desejo a todos os nossos amigos e visitantes um Santo e Feliz Natal! 

CÂNTICO DE NATAL

Ó meu Menino Jesus, 
sede a minha esperança!
Que na gruta da vossa Belém 
eu possa renascer também
como uma outra criança!  

Ó meu Menino Jesus,  
sede minha santa alegria!
Que o meu presépio se faça 
banhando minha alma na graça
de uma pobre estrebaria!

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha força e minha fé!
Que a mãe que me vela agora
seja a mesma Nossa Senhora 
da família de Nazaré!

Ó meu Menino Jesus, 
sede farol e minha luz!
Que este Natal de abraços,
se faça caminho de passos
que passam diante da Cruz! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede a alma do meu viver!
Que este Natal me converta
em dom, partilha e oferta
para os que vão renascer!
E em dom, oferta e partilha,
onde ainda hoje não brilha
a luz do vosso nascer! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha paz e todo bem!
Que eu viva a bem aventurança 
de adorar Deus feito criança
numa gruta de Belém!

(Arcos de Pilares)